sexta-feira, 19 de junho de 2009

.trânsito urbano.

.é tudo muito corrido, é tudo trânsito, é tudo passagem, é tudo passageiro; e, com tanta pressa, chega a ser engraçado tanta lentidão em um engarrafamento.
tanta limpeza não disfarça o cheiro de mijo e de vômito das ruas, isso quando estão limpas. eu me pergunto se algo disso foi planejado, se alguma rua dessas foi pensada, ou se só correram por necessidade e pressa.
não lembro dessa cidade ser tão engarrafada asism. me parece que, faz uns 2 anos, a gente se acostumou com a idéia de mudança, de melhoramento, de agilização e, para que esse processo acontecesse, enfrentariamos, temporiariamente, constantes engarrafamentos, constante lentidão, constante raiva e sufoco.
a cidade se encheu de obras. se encheu de mudança, se encheu de buracos e muita poeira. parecia uma solução definitiva. só podia ser uma solução definitiva! as avenidas mais importantes, as artérias da cidade, estavam parcialmente entupidas. tinha que ser definitivo!
logo pela manhã, a gente matutuava que ônibus ou que caminho pegar. qual caminho tinha menos obras. mas era inevitável. a ilha não é tão grande assim. os caminhos que não tinham obras em andamento, certamente, se entupiam como únicos caminhos de fuga da estase. enfim, não havia caminho livre.
pensando agora, agora mesmo. talvez esses dois ou mais anos, tenham realmente estimulado a andarmos de bicicleta nessa cidade. eu vejo que o número de ciclistas aumentou. o foda é o calor. é simplesmente foda andar de bicicleta ao meio dia. não que andar de ônibus seja agradável. mas de bicicleta consegue ser ainda mais desgastante.
o engraçado é que eu vejo as obras terminando e o engarrafamento persisitindo. tem uma ponte nova por aqui. bonita. diferente. quase pronta. os engarrafamentos não diminuiram. o que hoje me deixou um pouco triste e encantado. talvez tanto engarrafamento, pra gente de vitória, seja como sentir que há progresso. que há problemas urbanos significativos. talvez pontes grandes e engarrafamentos constantes sejam sinais de progresso. sinais de desgaste também. mas acho que, depois de mais de dois anos, viraram mais sinal de progresso.
como alguém que se acostuma a dor, parece que essa cidade se acostumou a seus novos e velhos engarrafamentos. as vezes, no fundo, até se orgulha deles. é o constante trânsito.
essa cidade simplesmente me encata com seu aconchego. não há lugar em que eu me sinta mais achado do que em vitória. ao mesmo tempo, é uma cidade que consegue me surpreender com coisas tanto antigas quanto novas. me sinto seguro e surpreendido. parece a união de sensações díspares.
outra coisa que me encanta; as outras formas de transitar. se os engarrafamentos, de certa forma, emparelharam-se à sensação de progresso, por outro lado, formas alternativas de transitar se associam à idéia de, simplesmente, não se importar mais ou de não ter se importado nunca. o transitar progressista me remete a metas, me remete a objetivos específicos, me remete a cobrança, pontualidade. há algo além disso. o transitar denucia a diferença.
há aqueles, dentro dessa mesma cidade, que não transitam para chegar a algum lugar. transitam por transitar. são pessoas que não se afetam negativamente pelas mudanças de um determinado trânsito, mas contemplam-na em seu próprio transitar.
admiro aquele que se vê em trânsito e em paz.
muitas vezes sinto que a maioria, por aqui, mesmo tendo aceitado essa nova forma progressista de transitar, se vêem transitando em agonia.

Um comentário:

  1. o que me incomoda em toda essas sensações (que são as mesmas das suas) é essa coisa de que parece que estamos tendo a representatividade física do progresso. como se o progresso se limitasse a obras, à sujeira, ao caos urbano, ao congestionamento. JK que dizia que o brasil ia crescer com obras. isso pra mim é ridículo. e não, não foi e nem está sendo uma cidade planejada. a tristeza que me dá é essa que vão criar agora um corredor exclusivo pra ônibus, em vez de fazer uma terceira via de acesso (um metrô, por exemplo). isso incentiva ao aumento do tráfego de ônibus e vira uma solução temporária, mais uma vez tapando o sol com a peneira.
    cara, você me deu uma ideia. podiamos criar um grupo de discussão de urbanismo. num horário que dê pra todos, e bolar discussões e projetos pra mandar pra prefeitura.
    se animar, amadurecemos essa ideia.

    um beijo, mano!

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