quarta-feira, 31 de março de 2010

.antagonismos.

.não se afasta, eu imploro com os olhos
não se desprende, eu te aperto um pouco mais
não corta o abraço, não largo por nada essa segurança
muito menos o beijo

não me deixa, eu faço questão
não deixa de me ligar, por favor
não deixa de pensar em mim, eu faço questão
me busca onde você estiver, não importa aonde.

.5 minutos ou 5 dias depois.

.não se aproxima, eu imploro com os olhos
não gruda, eu te aperto um pouco mais
não agüento meus braços mais em torno de ti, não largo por nada essa segurança
desencosta a tua boca insossa da minha boca fingida

me deixa, eu faço questão
não me liga, por favor
não precisa pensar em mim, eu não faço questão
ne perde onde vocês estiver, não importa aonde.

domingo, 28 de março de 2010

.da viagem.

.entre um instante e outro,
no eterno intervalo instantâneo
entre dois momentos,
movimentou-se.

.não que, alguma vez sequer, estivesse parado
afinal, não acreditava muito nesse estado
nem de espírito, nem de corpo, nem mesmo de paixão.

.mas, moveu-se em direção
àquilo que era apenas um misto/híbrido
de desejo e imaginação.

.acreditava, agora sim,
que todo desejo carrega uma dose de imaginação
e que tudo que é imaginado é, de alguma forma,
desejado.

.e que, sempre que a gente se move
em torno ou em direção
a um desejo imaginado,
imaginando um certa satisfação,
que nem mesmo precisa de definição ou forma
precisa só de existência,
a gente se move com mais gosto ,
com menos desgosto
e com mais certeza,
mesmo que seja um movimento em direção ao incerto.

.e, desse desejo certo
de preencher a imaginação com fatos concretos
e passos caminhados
e sonhos feitos de incertezas e oportunidades múltiplas
de encontrar beleza em feiúras e belezas,
caminhou numa viagem.

.cada passo era descoberta
redescoberta
era conhecimento e reconhecimento
era como reinventar o mundo a cada passo
e a cada olhar.

.o novo lugar era espetacularmente novo
e não houve tempo suficiente,
pois a cognição é fugaz e mestra
em nos encher de sensações que nos prendem a atenção
e impede que classifiquemos coisas bobas e inúteis
na hora em que espetáculos acontecem,
para julgar se aquele lugar era, definitivamente,
belo ou feio
certo ou errado
melhor ou pior
firme ou fraco....

.o lugar, só conseguia concluir isso,
era, definitivamente,
novo.

.e, não tão diferente assim dos lugares que já conhecia,
mas com maior intensidade,
percebia que cada olhar mudava aquele lugar.

.em resposta, e até antes de qualquer resposta,
pois aqui não cabe medir-se o tempo,
o lugar mudava aqueles olhos também.

segunda-feira, 15 de março de 2010

.o sorriso de karenin.

.estamos caindo na rotina.
que bom!
parece que a felicidade decidiu
se mudar, então, de vez.
veio de malas prontas
e agora mora aqui.
talvez tenha 4 patas
ou, talvez, não se vê.
veio viver com a gente
e rotinar a perfeição.
que bom!

insustentavelmente leve o seu sorriso.
insustentavelmente leve essa repetição.
que bom!

insustentavelmente leve demais pra ser humano.
insustentavelmente leve demais pra não se querer.
que bom!.

[grande kundera]

.uma promessa.

.a próxima coisa postada aqui
será de bem com a vida.

.eu juro.

quarta-feira, 10 de março de 2010

.grosso.

.longo
delgado
esguio
esquizo
ranzinza
amedrontadoramente
amedrontador
face torta
palavra indiferente
palavra morta
fluído de medo
que incomoda.

.isso é você.
.isso é você.
.isso é o que você é.
.você se resume a isso.
.isso.
.só isso.

.se és tão fluído!?.
.por que tens medo de desmanchar?.

.- vire gás.

.isso é medo de ser gás.
.isso é medo de ser você.
.isso é medo de chorar.

.desmancha.

.não pensei num bom título.

.sinceramente não sei se argumentos entortam passos praticamente já dados
sinceramente não sei se te importa ouvir tudo isso.

.não faço mais idéia de como te afeto
se te afeto
se te importo.

.eu argumento contra o teu exílio
como alguém que teme
por perder você.

.temo te perder totalemte
quando sua pessoa estiver totalmente perdida
e, pelo jeito, há uma busca na perdição.

.esse exílio é fuga.

.não quero frustrar suas ambições
mas acho que, independente do que se ache,
o que importa é gostar do que se tem.
e ver beleza perto e longe
sem precisar se doer para chegar a um horizonte.
porque não precisa ir tão longe
pra encontrar beleza.
não sei se é o vício de olhar pro céu
ou aquele de se olhar sempre menor do que é
de achar que em outro lugar poderia ver mais
sendo que aqui, e em qualquer lugar,
há tanta paz em ver
a beleza em diferentes dimensões e distâncias
porque, enfim, não precisa ir tão longe
pra encontrar beleza aqui.

.não precisa se doer.
.por favor, não vá.

sábado, 6 de março de 2010

.por hoje.

.não me julgue um mau-humorado
nem me ache chateado
é só que, por hoje, um pouco de silêncio
me faz bem.

.eu não tenho a intenção de brigar hoje
nem com você nem com as palavras
é só que, por hoje e talvez só por hoje,
eu me cansei de vocês.

.acho que é coisa bem simples,
tanto amar quanto falar
é só que, por hoje e espero que só por hoje,
minha fala transborda nas palavras.

.é só que, por hoje e espero que só por hoje
o meu amor não cabe em você.

.seus olhos.

.seus olhos
eles têm cor-de-mel
...
mel me enjoa.

.preguiça social aguda.

.acho que é passageiro,
talvez nem seja isso,
mas é que eu já diagnostiquei:
é preguiça social,
e digo mais,
é aguda!.

.não faço mais questão de procurar rostos conhecidos na rua para dizer "oi"
não faço questão de ir aos lugares mais frequentados
não faço questão de companhia
nem faço questão de pensar em ninguém
nem especial
nem desespecial.

.me acho chato e desinteressante.

.quanto às outras pessoas,
acho-as iguais ou piores....

.não, ai é exagero,
iguais ou melhores!.

.enfim,
um bom livro me basta
essa chuva me motiva
e eu to com preguiça de socializar.

segunda-feira, 1 de março de 2010

.sintomas em moldes de gesso.

.presos em gessos institucionais
nossos sintomas berram.

.a falta de liberdade e de interesse
é evidentemente patologizante.

.meu corpo grita silenciosamente
nessas prisões do dia-a-dia.

.ainda insistem em me convencer
que isso é o melhor pra mim.

.insistem que nem tudo nessa vida
é bom/agradável.

.meus sintomas discordam.

.a culpa das lágrimas.

.virou o rosto numa velocidade incrível
contra a sua vontade, contra a vontade do pescoço,
na verdade, antes mesmo de qualquer vontade.

.quase imediatamente após a bofetada
o moleque sente as lágrimas por virem
segura-as firme
vira pra mãe e clama
como o esforço de quem segura um grande peso
e sente, com esse peso, uma imensa incapacidade de falar
uma das primeiras palavras que aprendeu:
- mãe...?.

.como quem não percebe
e realmente não percebendo
o titânico esforço do menino em segurar as lágrimas
e dizer a palavra que, diretamente,
não significa "por favor, me ajuda aqui, agora, eu preciso mais que nunca",
mas que no momento significava exatamente isso,
a mãe, com a cara de indiferença mais porca do mundo
nem olha pra cara do guri e diz, como quem olha pro horizonte
tentando enxergar algo:
- você mereceu. agora aguenta.

.nisso, não há mais ajuda
não há reforço
ele está sozinho no mundo
só ele
e a vontade de chorar
vontade que passa pelos olhos
chegam a doer
mas não se resumem a eles
no choro, a garganta apertada chora,
o peito contraído chora,
as mãos e as bases da perna tremendo choram.
mas ele não deixa parte nenhuma do seu corpo chorar.

.o menino abaixa a cabeça,
como que para evitar gravitacionalmente que as lágrimas escapem,
e tenta calar o corpo todo de uma só vez.
tem vergonha e medo de mostrar que não aguenta segurar
aquela vontade que dói
aquela vontade que, quanto mais eles segura
mais se assemelha a um monstro brincando em seu corpo todo.

.o pai, autor da bofetada, ainda com a mão vermelha e quente
do atrito com a pele nova do rosto do guri,
repara que seu filho, seu próprio filho,
sangue do seu sangue,
fruto de sua porra,
resultado de seu desempenho sexual,
futuro herdeiro de seus negócios bem e mal sucedidos,
está de cabeça baixa como quem quer chorar,
não aguenta e grita
(grito que, para o moleque, dói tanto quanto o tapa):
- engole o choro, porra. tu não é homem, moleque?.

.e a vontade de chorar cresceu no menino
como um ser vivo e independente.
e, no máximo que ele pode,
se segurou.
tremeu tanto o corpo todo que tinha medo de cair.
sentiu a face avermelhar-se
sentiu a palma da mão do pai latejar em seu rosto
sentiu seus olhos umedecerem cada vez mais
sentiu que estava fora de seu controle.
com as respostas do pai e da mãe, só conseguia se culpar
e pensava que se chorasse
seria ainda pior
mostraria fraqueza
mostraria discordância
mostraria que seu corpo se achava certo
apesar da opinião do pai e da mãe.

.se controlou tanto
se segurou tanto
que, por fim,
não sentia mais culpa por aquela enxurrada de lágrimas que caiu.
sabia bem: por ele, não haveria choro.
as lágrimas choraram sozinhas, sem ele deixar.
a culpa, no fim de tudo,
era das lágrimas.