quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

.o inferno não é tão longe (nem tão quente).

.o inferno da solidão é frio
e todos os demônios
habitam o mesmo lugar

o inferno da solidão é frio
e a morada dos demônios
são os poros de nossa pele.

.isso não é um poema,
é uma centelha de samba.

.princípio esquizofrênico.

.eu me entendo perfeitamente,
mas nunca me permiti sentir.
.sou quase um espectador de mim.

.princípio esquizofrênico.

sábado, 27 de novembro de 2010

.da memória no corpo.

.não adianta procurar no tálamo
no córtex
nos olhos ou em qualquer sentido.
não adianta vasculhar o cérebro inteiro.

.a memória não passa da pele.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

.daqueles dias.

.esse é um daqueles dias
em que até o gira-sol
sente-se desorientado.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

.avião-fobia.

.quem é compulsivo
e tem medo pra caralho de voar
(como eu)
sabe que
as núvens são os quebra-molas do céu
quando os comissários de bordo passam com o lanche
a viagem tá quase na metade
a sensação de vertigem é constante por mais que você olhe pra asa do avião
o inglês da tripulação só vai te deixar mais nervoso e inseguro
a turbina faz barulhos bizarros em pleno funcionamento
o aeroporto de vitória dá medo.

.que venha o demônio de nietzsche.

.me entrego ao eterno se você estiver aqui
diga a nietzsche e a seu demônio
que essa noite eles podem vir
essa noite está calada e solitária o suficiente para eles chegarem
a eternidade não doeria nada com você do meu lado

então, me beija e me abraça agora
que lá vem o começo do fim de novo
dessa noite não passa outra vez
essa noite tudo acaba novamente.


.o máximo do meu romantismo.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

.a poética da terapêutica.

.ai eu perguntei:
- tem vezes que eu me pego perguntado, pra que sentir, afinal?
eu sei que deve ser uma coisa bacana, deve ter lá suas vantagens, mas eu não sinto faz tempo.
sabe? eu não sinto saudades e não sinto tristezas. não sinto euforias nem grandes alegrias, não consigo sentir raiva e o medo mal me atinge. eu sinto ansiedade, mas isso nem é sentimento direito. e ai, eu penso, se eu to bem assim, se eu ainda to vivo sem sentir nada, porque é que eu vou, nessa altura do campeonato, me esforçar pra sentir e correr o risco de doer? sinceramente, tem hora que eu acho que é vantagem não sentir. eu não consigo sentir falta daquilo que não experimentei. pra que qu'é que eu vou cavar esse buraco logo agora?
ai, ela olhou pra mim e disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo:

-sentir serve pra você liberar esse seu peito firme e ter fôlego.

ai eu perdi o fôlego.

.as coisas óbvias d'a gente, quando ditas por outra pessoa, são ainda mais óbvias.

domingo, 31 de outubro de 2010

.a menina que restava.

.desde o princípio, aquela menina sempre foi o que restava
foi concebida acidantalmente,
graças à última camisinha, vencida,
que restou na carteira de seu velho pai

durante a infância, brincava no último parque
que restava na cidade, e sempre era escolhida por último
nas brincadeiras que as crianças brincavam juntas
(isso quando não restava tanto que nem chegava a ser escolhida)

sua educação foi suficiente
ganhou o que restava de paciência dos pais
depois de tantos anos de vida canalha
fora os anos de vida conjugal forçada
graças ao que restou de uma trepada

seu nome fora escolhido sem esmero
dentre as várias opções repetitivas e comuns
o que restava era um nome exótico
o nome esdrúxulo que lhe acompanhou pelo resto da vida
restara de uma lista de nomes de revistinha de 1,99

na sala de aula, não chamava atenção
(aqui não resta espaço pr'a palavra quase. ela era invisível,
tanto aos olhos quanto ao coração)
seu nome, que não faz diferença restar aqui ou não,
era sempre pulado na chamada
pois, o que restava de visão dos professores,
não conseguia se afetar com aquela nome na pauta

durante toda sua vida escolar, passou de ano sem muito esforço
ninguém lembrava dela, nem professores, nem alunos
com vergonha desse fato, a maioria dos professores
acabava aprovando-a com algum resto de nota de resto de tinta de caneta
para não passarem vergonha maior

quando amadureceu
restou-lhe perceber
que estava na hora de se comprometer com alguém
com uma carreira,
com um cachorro e um gato,
com um crediário justo,
com um plano dentário descente
e com algumas contas pra pagar

arrumou um homem!

o homem de sua vida
era um homem médio, desapercebido,
tosquinho,
o que nenhuma outra mulher quis ou, sequer, reparara
era o homem que restava

sua casa, comprada com muito esforço
e longo tempo,
graças ao pouco que restava de seu salário médio e desapercebido
não restou pór muito tempo

caiu-lhe sobre a sua cabeça em um belo dia
encerrendo-lhe o pouco resto de vida que tinha
e aliviando esse tosco autor
do resto de imaginação que lhe sobrava.


- raspas e restos me desinteressam.

sábado, 18 de setembro de 2010

.partir.

.de repente...
partiu
partiu-se em várias direções
todas ao mesmo tempo
partiu de uma vez só
para duer tudo de uma só vez

partiu pois não aguentava mais estar
não aguentava mais estar ali daquele jeito
não sabia mais dizer certamente onde,
ou mesmo como, estava

tinha a esperança que, após se partir,
haveriam muitos lugares possíveis para se ser
e muitos jeitos possíveis para se estar em

tudo numa velocidade gigantescamente metamórfica
que só o partir incerto, repentino e seguro pode oferecer
muita velocidade em todas as partes

partira-se e não sentia-se mais corpo nenhum
apesar de ser o corpo o que mais sentia naquele momento
como que pela primeira vez em um longo tempo de amarras
ou talas que envolviam àquele corpo e o impediam de sentir

estava sempre aqui, ali, acolá
sempre partida

estava em várias partes
estando no mesmo lugar
e sabia que, se partir,
era pra sempre
não tem como voltar

partiu-se
partiu sem aviso prévio
partiu sem precisar
pra onde.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

.da ecologia psíquica.

.preserve-se de você mesmo.
.evite o mesmo em você.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

.shhhh³.

.shhhhhhhh
calma.
respira.
não esquece de respirar,
é fundamental.
calma.
para de pensar.
para de tentar sentir.
shhhh.
calma.
sem pensar,
nem sentir.
deixa vir.
deixa.
se esforça pra se entregar.
respira fundo.
esse ar em teus pulmões
sabe muito mais do que qualquer um dos seus pensamentos
ou mesmo que qualquer uma das sensações que você tente nomear.
deixa o ar entrar.
deixa o ar sair.
deixa que ele vai.
respira.
deixa o ar te dizer a direção.
deixa o teu corpo leve pro ar levá-lo.

então, em silêncio,
me diz o que você quer
agora.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

.satisfação.

.já não tenho muita por conta dessa vida.

.o pouco que eu tenho você ainda quer de mim?.

.não vou te dar.






.poetado por/pela/para minha anima sem foco, thalita covre.

sábado, 17 de julho de 2010

.da leveza e do peso.

.não pediram mais nada
o silêncio, levemente,
pedia tudo o que era necessário
pr'aquele momento

os corpos, repletos de desejos densos,
encontravam-se como quem sabe
onde, como e porquê,
sem nem querer saber de quando

era uma intimidade tão leve,
tão natural e pura, como se ela já existisse
antes mesmo daqueles corpos existirem,
que não deu tempo pra pensar, sequer,
em uma forma de temer aquele momento,
nem seus motivos passados,
muito menos suas conseqüências futuras

não deu tempo pra pensar em ter medo
não deu tempo pra pensar em ter regra
não deu tempo pra pensar em palavrear o tempo
não deu tempo de, sequer, pensar em passados

.o agora era tão fugaz, necessário e aproveitável,
que não esburrava tempo pra se perder.

era uma intimidade tão leve, quase ingênua,
que só conseguiram mesmo pesar
em memória de bem querer de agora
e em folha de papel rabiscado depois.

.história.

.tem horas que eu queria saber
em que momento da história
a gente resolveu trocar
a liberdade, pela rotina.

.vira e meche, eu me pergunto
quando foi que a gente começou a ter
tanto medo de perder algo
que nunca mais quisemos soltá-lo.

.quando será que foi
que criamos tantas regras
pra ministrar o que é tão natural.

.quando foi que optamos
por carregar toneladas em nossos peitos
ao invés de, simplesmente
preenchê-los de ar.

.quando será que foi
a primeira vez que
tivemos tanta certeza de que éramos
completamente tão diferentes do resto da vida
que passamos a temê-la.


.e, faça-me um favor,
mantenha-se em silêncio
se acaso pensares em dizer
que tudo isso é natural.
.você me dá um beijo
se eu não te pedir por um?.

domingo, 11 de julho de 2010

.aos que zombam de nossa vítória.

.apesar daqueles que zombam de nossa vitória
[tanto da nossa cidade quanto de nossas afirmações]
somos completos de todos os nossos defeitos
somos completos de todos esses completos defeitos.

.somos curados de todas as formas,
tipos e tamanhos de cura
assumimos, faz um tempo,
todas as deformações descartadas das linhas de produção.

.nossa vitória nem sempre envolve ganho
há sempre vida em nossa vitória
mas nem sempre ganho.

.uma cidade que grita em silêncio
e faz chacota berrante de tudo
sem dizer uma palavra sequer
são vivos completamente mortos
quem estaria vivo gritando em silêncio?
quem buscaria a perfeição em butiques
da parte chique da cidade
pra calar a voz e gritar a imagem
sem estar completamente morto?.

.vemos vivos completamente mortos
já nós, não
nos recusamos a essa condição.

.nó temos orgulho de nossas chagas
mais até do que realmente somos nossas chagas.

.nos afirmamos vivos,
mais vivos que muitos mortos.

.se não tivéssemos esquecido o que é a pena
sentiríamos por esses defuntos mudos.

.ao invés disso
passamos o tempo
gritando e orgulhosos com nossas dores
pra quem quiser gritar conosco.
porque, faz tempo,
só ouvir, ou fingir que nos ouve,
não é o suficiente pra gente.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

.do silêncio do outro.

.e eu, que achava que gostava do silêncio,
que achava que já tinha me acostumado,
jurava estar curado do medo de ficarmos todos surdos e mudos.

.redescobri, logo por agora,
que o silêncio do outro,
do outro de verdade,
do outro que te firma em terra,
em esperança e confiança,
dói.

.100 anos de solidão e silêncio não machucariam em nada
se não tivesse outrem por quem esperar uma singela resposta.

.da quarta dimensão.

.não precisa de paredes pra se sentir esmagado
mais do que espaço, alutura, largura e comprimento;
mais do que paredes e limites geográficos;
o que me esmaga mesmo,
aquilo que tem a proesa de me esmagar onde mais preciso de espaço,
aquilo que retorce meu peito por dentro e por fora ao mesmo tempo,
a dimensão que mais me corta, me preocupa e me consome
é o tempo.

.nota de registro.

.café.
.insônia.
.calendário.
.agenda.
.relógio.
.celular.
.prova final.
.dívidas.
.salários.
.finais de mês.
.café.
.virar a noite.
.3 dias seguidos.
.ducha fria.
.tempo.
.tempo.
.tempo.
.tempo.
.curto.
.uma vida é muito pouco.

.a ânsia de consumir o tempo
em doses maiores que minha boca,
meus pés,
meus olhos,
e meus pulmões,
não me deixa perceber se o que sinto
é vontade de morrer menos,
vontade de viver de mais,
ou de viver mais pra morrer logo.

.a vertigem,
tanto causada pela altura quanto pelo tempo,
causam-me tanto a sensação de medo
quanto a sensação de alívio.

.estatística.

.determine p(x) para a seguinte função:

f(x) = não faço idéia³.x

sendo que "se fuder bastante" < x < "se importar com tudo isso"
sendo x pertencente ao universo dos números irreais,
abstratos, absurdos, metafóricos, metafísicos
e idiotas.

.dois em um.

.nem todo o riso é alegria [o suficiente]
nem todo o sangue é dor [pr'o número de feridas do meu corpo]
nem toda lágrima é tristeza [o bastante]
nem todo muro é prisão [intencionalmente].

.nem todo passado já passou [o necessário]
nem todo gozo é prazeroso [o suficiente]
nem toda a amargura é intragável [ao extremo]
nem toda a sensação é sensível [à pele dormida].

quarta-feira, 23 de junho de 2010

.do marca páginas.

.e, como diz o marca páginas que um grande amigo me deu,
eu sei que: nada de grande no mundo é feito sem paixão.

.que coisa maior há de ser feita no mundo com paixões
que a própria vida?.

.cacos de paixões.

.tem hora que a paixão não cabe mais em mim
eu me explodo em excesso,
sou uma pessoa excessiva,
nunca me faltou nada,
e atiro cacos de mim pelo mundo afora

vira e meche, vejo cacos de antigas paixões
naqueles livros e poemas daquela época,
naquele jeito de beijar um corpo que se aprendeu em mim,
naquela rua escura por onde a paixão passou,
naquela cidade inteira por onde a paixão foi,
naquele sentimento de inocência,
ou na sensação clara de tesão,
que outrora era sinal de paixão

sobram cacos por todos os lugares
os cacos são,
ao mesmo tempo,
memórias
e partes
de mim.

.eu sou sempre
o que resta da explosão
de umas outras paixões.


.meus cacos de mim.

.vejo-os por todos os cantos dessa cidade
e pelos cantos de outras cidades por ai, também
alguns cacos me reconhecem e acenam
outros passam e nem me olham
alguns me esqueceram
já outros,
eu me esforço pra esquecer.


.são tantos cacos que já me confundo
não lembro mais quais vieram de onde
nem por que deixaram de ser só eu.

.estão espalhados por todos os cantos da cidade
e ainda estão em todos os cantos de mim
me fazendo lembrar e ser.

terça-feira, 22 de junho de 2010

.lição óbvia.

.é sempre estranho e corriqueiro
perceber que a vida alheia não depende de você.

.é estranho perceber, que além da tua boca,
existem várias outras para beijar,
algumas até melhores.

.é realmente estranho perceber
que quando alguém te deixa,
não necessariamente ela sofrerá pra sempre.


.e nem você.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

.uma idéia.

.musique um idéia
discuta com uma memória
brinque com teu corpo
retarde o movimento.

.leia nas entrelinhas do olhar
questione tudo que é possível
apaixone-se pela paixão
reclame do indizível.

.vire todas as retas
curve todos os vales
rasteje por todas as montanhas
e seje como quem quer o ser.

.verdadeie mentiras
minta verdades
cuspa poesiase engula vaidades.

.uma boa digestão!
um bom corpo!
um bom momento
pra você!.

.ps.: pr'a gente!.

terça-feira, 1 de junho de 2010

.a grande questão.

.não é mentir menos
mas
mentir com mais sinceridade.

domingo, 23 de maio de 2010

.e desta vez.

.nem ao menos
teve coragem
de olhar nos olhos.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

.aventura.

.rema em direção
à ventura que nos cabe.

.engula com gosto
o risco que a ventura trás.

.ice as velas a favor do vento
e da ventura de o ser.

.digira com gozo
a aventura de viver.

"ventura
s. f.
1. Fortuna próspera; sorte.
2. Felicidade.
3. Destino; acaso.
4. Risco; perigo.
à ventura: ao acaso, à sorte.
"

.da nudez das palavras.

.para o escritor ou pra qualquer um.

.quando só restar o gelo da sensação da falta e as palavras,
dispa as palavras, desmonte-as, analise-as como quem as despe.
veja, perceba, seja suas curvas.
as lindas curvas e nuanças das palavras.
elas dizem tudo.
a gente só faz expressar o quão agradável foi

o encontro ao vê-las.
.todas nuas.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

.do que cabe nas nossas salas-e-jeitos-de-estar.

.leve tudo d'aqui
leve leve como o vento
que, tem vez, a gente,
meio sonolento,
nem vê passar.

.leva rápido tudo d'aqui
leva leve e com a consciência lavada
leva extremamente leve que é pra não pesar,
pra não amassar memórias,
nem essas salas já viradas.

.leva certo pra longe d'aqui
leve bem leve pra qualquer lugar
que seja incerto
pr'a gente não saber onde tá
pr'a não teimar de procurar mais,
aquilo que a gente já achou demais d'conta,
nem de longe nem de perto.


.lavar leve
esfregar de leve pra sarar
lavar forte e leve pra sair de vez
leva leve e lava esses nossos amores
que pesam tanto
e a gente sabe
que a gente já não consegue mais mantê-los
nessas nossas salas-e-jeitos-de-estar.

.o homem plástico.

.o homem de plástico
derrete.

.o homem de plástico
é dobrável.

.o homem de plástico
vem do combustível fóssil.

.o homem de plástico
é maleável.

.o homem de plástico
é dóssil.

.o homem de plástico
é todas as cores da modernidade.

.o homem de plástico
é biodegradável e é adaptativo.

.o homem de plástico
é até a sua descartabilidade.

terça-feira, 20 de abril de 2010

.estrangeiro.

.têm horas que eu me sinto um estrangeiro de verdade
converso com todas as pessoas, procuro no dicionário o tempo todo
mas, por mais esforço que eu faça,
ainda não entendo a palavra saudade.

.shhhh².

.só quero estar só
e desfrutar de minha carência
só quero estar só
aproveitar de toda a ausência
só quero estar só
não me importar mais
em atarmos e desatarmos nós.


ahhhhhhhh... um bom clichê.

.shhhh¹.

.shhhhhhhhhhhh.

.não precisa falar o tempo todo
nem tudo é e nem precisa ser palavreado
nem tudo é comunicável
e nem tudo eu quero ouvir.

.assim como a pele nas noites de frio em cima da cama,
os olhos ouvem mesmo no silêncio
e a língua cala com toda a razão.

.os teus gemidos fazem muito mais sentido
e significado que muitas palvras
e o teu cheiro, ao invés de relatos de tragédias e alegrias,
esse sim,
é o que me lembra mais de algo passado.

.shhhh.

.hoje eu chamei o silêncio para um café
meio que, sem perceber a hora,
ele acabou passando o dia inteiro comigo.

.adoro a sua companhia
.

.a besta. .ou. .o dragão em mim.

.há uma besta aqui dentro
e agora eu entendo porquê existem dragões
dragões servem para cuspir essa bola de fogo
bolas inúmeras que crescem
entre o diafragma e o esôfago
nos momentos de fúria
nos momentos de ansiedade.

.essas palavras sublimam a besta que insurge em mim.

.as palavras tentam queimar o papel com a sua velocidade e força
quando, na verdade, eu queria era queimar o mundo inteiro com a minha fúria.

.eu nunca me sinto mais vivo do que quando me sinto furioso
o estremecer involuntário do corpo, a cognição acelerada, a atenção, os olhos bem abertos
e a sagacidade de encarar tudo, mesmo sabendo das consquências, de peito aberto.

.menos exitação
mais paixão e impulso
mais vida
esse dragão em mim.

.essa besta é meu motor
eu sou, também, essa raiva e essa angústia
caladas e concentradas nos esforços doloridos
de sorrir sorrisos murchos, bestas e flácidos o tempo quase inteiro.

.a besta
cospe
bolas
de fogo.

.eu nunca me sinto tão vivo
quanto quando a besta cospe suas bolas de fogo.

domingo, 11 de abril de 2010

.mudo, mudo.

.mudo, mudo, o tempo todo
mudo, mudo e nem percebo
mudo, mudo, o mundo inteiro
mudo, mudo todo mundo num segundo.
mudo, mudo e nem percebo.
só percebo que,
quando não posso mudar,
emudeço.

domingo, 4 de abril de 2010

.ciclista¹.

.se esgueira
se sua
pedala bastante
sobe a ladeira na marcha leve
num ritmo constante.

.passa entre os carros
passa pelos carros
passa por cima dos carros.

.leva buzinada,
possa d’água,
chingamento,
e grosseria
além dos cosntantes bueiros
no lugar de acostamentos.

.sobe na calçada
desce a rampa
toma fechada
e sua mais um pouco.

.pedala bastante
bastante.

.não há espaço?
cria-se espaço!.

.sai cedo pra sentir mais o vento
escolhe seu próprio caminho
pros mesmos lugares
todos os dias.

.aproveita a paisagem
de sua bela cidade
e sente os cheiros e os gostos
que os outros transportes não têm.

.quando chega ao destino
as pessoas o olham torto
acham que é louco
acham que é arriscado
acham que é saudável.

.e ele só acha que é mais livre.

quarta-feira, 31 de março de 2010

.antagonismos.

.não se afasta, eu imploro com os olhos
não se desprende, eu te aperto um pouco mais
não corta o abraço, não largo por nada essa segurança
muito menos o beijo

não me deixa, eu faço questão
não deixa de me ligar, por favor
não deixa de pensar em mim, eu faço questão
me busca onde você estiver, não importa aonde.

.5 minutos ou 5 dias depois.

.não se aproxima, eu imploro com os olhos
não gruda, eu te aperto um pouco mais
não agüento meus braços mais em torno de ti, não largo por nada essa segurança
desencosta a tua boca insossa da minha boca fingida

me deixa, eu faço questão
não me liga, por favor
não precisa pensar em mim, eu não faço questão
ne perde onde vocês estiver, não importa aonde.

domingo, 28 de março de 2010

.da viagem.

.entre um instante e outro,
no eterno intervalo instantâneo
entre dois momentos,
movimentou-se.

.não que, alguma vez sequer, estivesse parado
afinal, não acreditava muito nesse estado
nem de espírito, nem de corpo, nem mesmo de paixão.

.mas, moveu-se em direção
àquilo que era apenas um misto/híbrido
de desejo e imaginação.

.acreditava, agora sim,
que todo desejo carrega uma dose de imaginação
e que tudo que é imaginado é, de alguma forma,
desejado.

.e que, sempre que a gente se move
em torno ou em direção
a um desejo imaginado,
imaginando um certa satisfação,
que nem mesmo precisa de definição ou forma
precisa só de existência,
a gente se move com mais gosto ,
com menos desgosto
e com mais certeza,
mesmo que seja um movimento em direção ao incerto.

.e, desse desejo certo
de preencher a imaginação com fatos concretos
e passos caminhados
e sonhos feitos de incertezas e oportunidades múltiplas
de encontrar beleza em feiúras e belezas,
caminhou numa viagem.

.cada passo era descoberta
redescoberta
era conhecimento e reconhecimento
era como reinventar o mundo a cada passo
e a cada olhar.

.o novo lugar era espetacularmente novo
e não houve tempo suficiente,
pois a cognição é fugaz e mestra
em nos encher de sensações que nos prendem a atenção
e impede que classifiquemos coisas bobas e inúteis
na hora em que espetáculos acontecem,
para julgar se aquele lugar era, definitivamente,
belo ou feio
certo ou errado
melhor ou pior
firme ou fraco....

.o lugar, só conseguia concluir isso,
era, definitivamente,
novo.

.e, não tão diferente assim dos lugares que já conhecia,
mas com maior intensidade,
percebia que cada olhar mudava aquele lugar.

.em resposta, e até antes de qualquer resposta,
pois aqui não cabe medir-se o tempo,
o lugar mudava aqueles olhos também.

segunda-feira, 15 de março de 2010

.o sorriso de karenin.

.estamos caindo na rotina.
que bom!
parece que a felicidade decidiu
se mudar, então, de vez.
veio de malas prontas
e agora mora aqui.
talvez tenha 4 patas
ou, talvez, não se vê.
veio viver com a gente
e rotinar a perfeição.
que bom!

insustentavelmente leve o seu sorriso.
insustentavelmente leve essa repetição.
que bom!

insustentavelmente leve demais pra ser humano.
insustentavelmente leve demais pra não se querer.
que bom!.

[grande kundera]

.uma promessa.

.a próxima coisa postada aqui
será de bem com a vida.

.eu juro.

quarta-feira, 10 de março de 2010

.grosso.

.longo
delgado
esguio
esquizo
ranzinza
amedrontadoramente
amedrontador
face torta
palavra indiferente
palavra morta
fluído de medo
que incomoda.

.isso é você.
.isso é você.
.isso é o que você é.
.você se resume a isso.
.isso.
.só isso.

.se és tão fluído!?.
.por que tens medo de desmanchar?.

.- vire gás.

.isso é medo de ser gás.
.isso é medo de ser você.
.isso é medo de chorar.

.desmancha.

.não pensei num bom título.

.sinceramente não sei se argumentos entortam passos praticamente já dados
sinceramente não sei se te importa ouvir tudo isso.

.não faço mais idéia de como te afeto
se te afeto
se te importo.

.eu argumento contra o teu exílio
como alguém que teme
por perder você.

.temo te perder totalemte
quando sua pessoa estiver totalmente perdida
e, pelo jeito, há uma busca na perdição.

.esse exílio é fuga.

.não quero frustrar suas ambições
mas acho que, independente do que se ache,
o que importa é gostar do que se tem.
e ver beleza perto e longe
sem precisar se doer para chegar a um horizonte.
porque não precisa ir tão longe
pra encontrar beleza.
não sei se é o vício de olhar pro céu
ou aquele de se olhar sempre menor do que é
de achar que em outro lugar poderia ver mais
sendo que aqui, e em qualquer lugar,
há tanta paz em ver
a beleza em diferentes dimensões e distâncias
porque, enfim, não precisa ir tão longe
pra encontrar beleza aqui.

.não precisa se doer.
.por favor, não vá.

sábado, 6 de março de 2010

.por hoje.

.não me julgue um mau-humorado
nem me ache chateado
é só que, por hoje, um pouco de silêncio
me faz bem.

.eu não tenho a intenção de brigar hoje
nem com você nem com as palavras
é só que, por hoje e talvez só por hoje,
eu me cansei de vocês.

.acho que é coisa bem simples,
tanto amar quanto falar
é só que, por hoje e espero que só por hoje,
minha fala transborda nas palavras.

.é só que, por hoje e espero que só por hoje
o meu amor não cabe em você.

.seus olhos.

.seus olhos
eles têm cor-de-mel
...
mel me enjoa.

.preguiça social aguda.

.acho que é passageiro,
talvez nem seja isso,
mas é que eu já diagnostiquei:
é preguiça social,
e digo mais,
é aguda!.

.não faço mais questão de procurar rostos conhecidos na rua para dizer "oi"
não faço questão de ir aos lugares mais frequentados
não faço questão de companhia
nem faço questão de pensar em ninguém
nem especial
nem desespecial.

.me acho chato e desinteressante.

.quanto às outras pessoas,
acho-as iguais ou piores....

.não, ai é exagero,
iguais ou melhores!.

.enfim,
um bom livro me basta
essa chuva me motiva
e eu to com preguiça de socializar.

segunda-feira, 1 de março de 2010

.sintomas em moldes de gesso.

.presos em gessos institucionais
nossos sintomas berram.

.a falta de liberdade e de interesse
é evidentemente patologizante.

.meu corpo grita silenciosamente
nessas prisões do dia-a-dia.

.ainda insistem em me convencer
que isso é o melhor pra mim.

.insistem que nem tudo nessa vida
é bom/agradável.

.meus sintomas discordam.

.a culpa das lágrimas.

.virou o rosto numa velocidade incrível
contra a sua vontade, contra a vontade do pescoço,
na verdade, antes mesmo de qualquer vontade.

.quase imediatamente após a bofetada
o moleque sente as lágrimas por virem
segura-as firme
vira pra mãe e clama
como o esforço de quem segura um grande peso
e sente, com esse peso, uma imensa incapacidade de falar
uma das primeiras palavras que aprendeu:
- mãe...?.

.como quem não percebe
e realmente não percebendo
o titânico esforço do menino em segurar as lágrimas
e dizer a palavra que, diretamente,
não significa "por favor, me ajuda aqui, agora, eu preciso mais que nunca",
mas que no momento significava exatamente isso,
a mãe, com a cara de indiferença mais porca do mundo
nem olha pra cara do guri e diz, como quem olha pro horizonte
tentando enxergar algo:
- você mereceu. agora aguenta.

.nisso, não há mais ajuda
não há reforço
ele está sozinho no mundo
só ele
e a vontade de chorar
vontade que passa pelos olhos
chegam a doer
mas não se resumem a eles
no choro, a garganta apertada chora,
o peito contraído chora,
as mãos e as bases da perna tremendo choram.
mas ele não deixa parte nenhuma do seu corpo chorar.

.o menino abaixa a cabeça,
como que para evitar gravitacionalmente que as lágrimas escapem,
e tenta calar o corpo todo de uma só vez.
tem vergonha e medo de mostrar que não aguenta segurar
aquela vontade que dói
aquela vontade que, quanto mais eles segura
mais se assemelha a um monstro brincando em seu corpo todo.

.o pai, autor da bofetada, ainda com a mão vermelha e quente
do atrito com a pele nova do rosto do guri,
repara que seu filho, seu próprio filho,
sangue do seu sangue,
fruto de sua porra,
resultado de seu desempenho sexual,
futuro herdeiro de seus negócios bem e mal sucedidos,
está de cabeça baixa como quem quer chorar,
não aguenta e grita
(grito que, para o moleque, dói tanto quanto o tapa):
- engole o choro, porra. tu não é homem, moleque?.

.e a vontade de chorar cresceu no menino
como um ser vivo e independente.
e, no máximo que ele pode,
se segurou.
tremeu tanto o corpo todo que tinha medo de cair.
sentiu a face avermelhar-se
sentiu a palma da mão do pai latejar em seu rosto
sentiu seus olhos umedecerem cada vez mais
sentiu que estava fora de seu controle.
com as respostas do pai e da mãe, só conseguia se culpar
e pensava que se chorasse
seria ainda pior
mostraria fraqueza
mostraria discordância
mostraria que seu corpo se achava certo
apesar da opinião do pai e da mãe.

.se controlou tanto
se segurou tanto
que, por fim,
não sentia mais culpa por aquela enxurrada de lágrimas que caiu.
sabia bem: por ele, não haveria choro.
as lágrimas choraram sozinhas, sem ele deixar.
a culpa, no fim de tudo,
era das lágrimas.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

.nem por você nem por ninguém.

.eu me desfaço dos meus planos.
.homenagem ao mês de fevereiro.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

.férias.

.férias me entorpecem,
eu sinto que os dias não mudam
não passam
eu sinto que eu to no mesmo dia
todos os dias.

.não pela repetição
mas pela continuidade
velocidade
fluxo.

.me faz um favor?.

.leva um pedaço de mim.

.me faz doer.

.por favor.

.medo.

.minha mãe disse que se encontrasse um homem como eu,
ela, sem pestanejar, o taxaria de medroso.

.ela diz que acordar em partir e deixar partir fácil
sem peso
é sinal de instabilidade
sinal de medo de compromisso
sinal de insegurança do que se quer.

.mamãe sugeriu que eu sou medroso.
.eu acho.
.ou ela não tá afim de me pegar.

.amor, arte, alguns sentimentos e resmungos.

.eu sinto que não sinto nada
e, estranhamente, simultaneamente,
eu sinto não agüentar o que estou sentindo.

.o nada pesa muito/tanto.

.eu confesso que não sei tocar nem uma música inteira na guitarra
mas um dos maiores prazeres da minha vida
é tocar tal instrumento.

.admito que não me considero poeta
que não sei fazer e nunca fiz uma poesia sequer
mas poetar me faz muito bem
fico aquém quando não poeto.
.assumo.

.têm vezes que eu sinto que nunca amei
e que durante toda a vida
amar foi o que eu mais busquei.

.amor, arte, alguns sentimentos
arte, amor e resmungos disfarçados
eu disfarço os resmungos
finjo eu que são só contemplações de patetices e tragédias

dessas simples vidas em eus.

.no fundo e bem na superfície,
quase que pra todo mundo que quiser ver,
eu resmungo mesmo.


.sou um puta resmungão.