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.em parte, eu escrevo porque é bacana lembrar do que eu pensava
e pensar como chegou até aqui.
.o escrito é sagrado.
.as vezes acho tão bom o que eu escrevo que eu até duvido que fui eu quem escrevi..acho que esse ano ainda sai um livrinho divertido!.
.amarelo amarelão gritou a plenos pulmõesembriagado em uma noite quenteem seu cavalo azul bicicletarem plena dantenão o inferno de dantemas a avenidade de um inferno de cidadea dante michelinique queria ver produçãoqueria ver sangue e interaçãobrincadeira e um poquinho mais de emoçãoparticipaçãoleitura, interesse e, quem sabe, incenassãoparticipaçãogritou para todos e para ninguémtentou gritar um pouco além mas a avenida estava esvaziadasua raiva foi canalizada no grito do seu euno gemido de seu espíritono amarelo de seu sere ele esqueceuchegou na cama e, de bêbado, durmiusonhou com uma cidade inteira que ele desejva mandarpra putaqueopariue com as fotos que ele iria editardaquela passeio de bicicleta pela cidade de vitóriaem noite de luar.
.adoro o teu sorriso de plásticodaqueles que dói em mim o esforço danado do teu maxilar e buchechasadoro essa sua roupa que disfarça que você é gordaou mesmo que não tem peitos, ou que seu braço é peludo igual a um braço de macacoadoro essas tuas fotos espontâneassão tão falsas que eu as adoroadoro essa tua fé cega na vida e, por que não, em deusadoro quando você teima que as coisas hão de dar certo sempreadoro essa tua arrogância, esse teu silêncio e esse teu olharque tentam dizer que não me vêem, ou que não se importame como a sua intenção é dupla: me fazer doer e te afirmar melhoradoro os teus carros desnecessáriosteus conceitos baratosseu dinheiro sujo e limpoadoro as revistas que você finge leradoro os mesmos filmes diferentes que você insiste em assistiradoro a sua produção nula e teu desgaste de um planetaadoro as suas mulheres secas, sérias e sem graçaadoro o teu gosto porco e tua educação medíocreadoro a tua gentileza falsaseus gestos durossua falsidade espontâneaadoro o teu bairro limpo e policiadoseu prédios altos e bem cercadosseu porteiros pretos e pardose teus filhos idiotas e mimadosmortosadoro todos vocêsmortos.
.e dia desses eu reparei, não sem ajuda e troca/encontro:
tudo é novidade o tempo todo!.
.até o mesmo é novidade
o mesmo retorna novo
é o eterno retorno
do diferente!.
.o eterno retorto daquilo que é
em si mesmo
surpreendente surpreendentemente infinito
e nada maissó isso.
.percebe-se só o que é novo
seja o tempo o mudador
sejamos nós mesmos mudados
e, é claro, ninguém aqui disse em melhorado..talvez reafirmado.
.é apenas novidade
sem compromisso
ou necessidade,
é só novidade
que por não ser tão necessária assim
a gente liga ou se desliga
mas ainda é novidade.
.todo o instante é novidade
todo o instante é invenção.
.pra quem sabe brincar de viver
todo o instante é brincadeira do tempo
todo o instante é nossa brincadeira
feita de regras na hora
daquelas boas de se desfazer
quando se sente querer.
.e, por um instante de ira
daquelas que tremem na base dos joelhos
reclamam na ponta do queixo
e cortam o ar do meio da sua garganta
eu pensei que, talvez,
essa cidade não mude
as pessoas não mudem
as coisas não vão melhorar
o ambiente não vai ficar mais agradável por aqui
pensar em mudança, e ainda, mudança para melhor,
é, talvez, pensar em um nível de absurdo.
.talvez o mundo simplesmente se divida
os interessados e os desinteressados
os educados e os mal educados
os rabugentos e os simpáticos
os mal e os bem atendidos
os produtores em larga escala
e os consumidores em maior ainda.
.talvez seja apenas uma questão da ordem de consumo
é passageiro e mutável
é histórico, genalógico, cinza
entretanto, talvez,
seja assim mesmo.
.e se for,
que haja guerra!.
.não deixe ninguém comprar sua folganem comprar sua vontade de não fazer nadanão permita que ninguém compre o tempo de teus devaneiosnem que compre a tua confiança na vidanão se permita vender tua certeza de que a vida é maravilhosade que você produzirá mesmo fora de um trabalhonão venda essa certeza!não venda a tua vontade do novo nuncamuito menos em suaves e densas prestações de rotina amarganão venda a tua rotanão venda o teu destino não venda o teu gostonão venda o teu corpobrinque com o dinheirobrinque com a situaçãonão se vende por dinheironem pela situação.invente novos caminhos pros mesmos lugaressem esquecer de deixar os mesmos lugares diferentesfaça da venda, troca e compra, uma outra relaçãoproduza em cima da dor e da alegriaproduza sobre a oportunidade constantebrinque.venda a brincadeira!venda somente a brincadeira.!
.acho graça do quanto aprendo com a bicicleta
ontem a noite, fiz questãod e descer uma ladeira íngrime com a bicicleta
como quem confia
como quem é seguro do certo e do errado
como quem confia numa escolha que não é tão sua, mas em parte sua
foi uma das primeiras vezes na minha vida
que eu me deixei ir
do alto ao baixo
usando e desusando os freios
sentindo
sentindo-me forte
e foi bom
diferente
imprevisível, porém certeiro
a queda, se necessário, faria parte
mas não fez
o vento no meu rosto lembrou-me da infância
lembrou-me do medo
lembrou-me do crescer.
.deixei certas coisas pra trás
tento não pensar nelas
não consigo evitar
tenho pena das coisas inanimadas que eu não uso
tenho pena das boas idéias que eu não exerço
tenho pena das atividades que deixo de fazer
queria ser tudo aos montes.
.acho que tudo isso
idéias, coisas e atividades, de certa forma, se sentem tristes por serem esquecidas, ou evitadas.
.eu sei, isso é só narcisismo.
.mas dá pena.
.sai do trabalho de bicicleta, da mesma forma que cheguei
com aproximadamente 30 segundos de pedalada, na mesma rua do restaurante
eu vejo um homem com uma carruagem de papelão
apilhando livros que se encontravam ao redor e dentro de uma grande lixeira
daquelas fundas, específicas para lixo seco
dentro de sua enrome carruagem
dizendo por alto, eu diria que vi mais de 200 livros naquela cena bizarra
aos que brincam com a vida, não falta encontro com o surpreendente
perguntei ao catador de papel se podia olhar nos livros que ele estava catando
achei livros toscos e antigos, livros velhos e alguns quase recentes
livros sobre teologia, militaraismo brasileiro, história do brasil e filosofia
inusitado
catei alguns
enquanto catava, imaginava como os levaria para casa de bicicleta
quando vi, ao meu redor tinham mais de 10 livros de capa dura e pesados que me interessavam
enfim, vou resumir a história
estou num misto de vontade de detalher esse momento pra reler e rir depois com muitos detalhes
e vontade de escrever uma reflexão sobre isso
dá preguiça de escrever detalhes
apesar de gostar muito de, tempos depois, reler detalhes
enfim
achei graça do lixo
achei continuidade do lixo
depois não era mais o catador quem metia a mão na lixeira
mas eu
a lixeira era enorme e escura, a cada mãozada saiam mais livros, os quais eu morria de curiosidade para ler os títulos
confesso que a maioria me desagradava em gosto
mas me deixava facinado como registro histórico
pensei como os livros são história
a história de com a história se formou
nenhum livro é ruim
nenhum livro é inútil
os livros são uma das expressões de um continuidade!
antes dos livros, tinha vidro e sacos na lixeira
mão com cortes e livros
um bergson e um sorriso
um nietzche e uma garagalhada
aldous huxley!
autores que eu só ouvi de nome, ams reconheci
e outros muito undergrounds
surreal...surreal...
livros em lixeiras
deus sabe o quanto eu acho graça nos livros
eu não os resisto
quero comprar todos
nem é questão de lê-los
querendo ou não, não é esse o ponto fundamental
mas eu acho que o ponto, pelo menos um dos bacanas
é o acesso
é a cobrança
ter um livro é como uma idéia que cobra ser pensada!
me sentia bem mechendo no lixo
apesar dos cortes
o senhor que jogou os livros fora me viu mechendo na lixeira
oscar
disse-me que os livros eram de seu falecido sogro
e que por dias tentou doa-los a qualquer um
num desespero por ocupação de espaço caseiro
jogou parte fora
no desenrolar da história, oscar me chamou pra ir até a sua casa
falei também com sua esposa
disse-me que a maior parte da biblioteca abandonada ainda estava em casa
e precisava ser desfeita
mas que estava quase encomendada
acho que por desespero
e por dó de jogar tantos livros fora
oscar pegou meu telefone e disse que se der qualquer coisa errada
eu posso pegar os livros
dentro da casa de oscar, vi mais de mil livros encaixotados
me deu vontade de sentar e ver todos os livros que estavam dentro das caixas
um dia eu talvez entenda essa minha paixão visual por livros
por respeito, ou sei lá pelo que
perguntei o nome do falecido proprietário da biblioteca
- iacy - respondeu-me oscar.
disse tratar-se de um teólogo mineiro e não lembro mais o que
pensei tantas coisas sobre iacy que me dá preguiça de escrever
mas acho que pensei em iacy como um homem que eu gostaria de conhecer
me conectei com iacy sem nunca conhecê-lo
movimento cósmico
a mentira do conhecimento, como todas as outras mentiras, pode agradar
me agrada
gosto de pessoas que apreciam o conhecimento
gosto de iacy.