terça-feira, 27 de outubro de 2009

.eu escrevo.

.em parte, eu escrevo porque é bacana lembrar do que eu pensava
e pensar como chegou até aqui.
.o escrito é sagrado.
.as vezes acho tão bom o que eu escrevo que eu até duvido que fui eu quem escrevi.

.acho que esse ano ainda sai um livrinho divertido!.

.amarelo amarelão.

.amarelo amarelão gritou a plenos pulmões
embriagado em uma noite quente
em seu cavalo azul bicicletar
em plena dante
não o inferno de dante
mas a avenidade de um inferno de cidade
a dante michelini
que queria ver produção
queria ver sangue e interação
brincadeira e um poquinho mais de emoção
participação
leitura, interesse e, quem sabe, incenassão
participação
gritou para todos e para ninguém
tentou gritar um pouco além
mas a avenida estava esvaziada
sua raiva foi canalizada
no grito do seu eu
no gemido de seu espírito
no amarelo de seu ser
e ele esqueceu
chegou na cama e, de bêbado, durmiu
sonhou com uma cidade inteira que ele desejva mandar
pra putaqueopariu
e com as fotos que ele iria editar
daquela passeio de bicicleta pela cidade de vitória
em noite de luar.

.adoro.

.adoro o teu sorriso de plástico
daqueles que dói em mim o esforço danado do teu maxilar e buchechas
adoro essa sua roupa que disfarça que você é gorda
ou mesmo que não tem peitos, ou que seu braço é peludo igual a um braço de macaco
adoro essas tuas fotos espontâneas
são tão falsas que eu as adoro
adoro essa tua fé cega na vida e, por que não, em deus
adoro quando você teima que as coisas hão de dar certo sempre
adoro essa tua arrogância, esse teu silêncio e esse teu olhar
que tentam dizer que não me vêem, ou que não se importam
e como a sua intenção é dupla: me fazer doer e te afirmar melhor
adoro os teus carros desnecessários
teus conceitos baratos
seu dinheiro sujo e limpo
adoro as revistas que você finge ler
adoro os mesmos filmes diferentes que você insiste em assistir
adoro a sua produção nula e teu desgaste de um planeta
adoro as suas mulheres secas, sérias e sem graça
adoro o teu gosto porco e tua educação medíocre
adoro a tua gentileza falsa
seus gestos duros
sua falsidade espontânea
adoro o teu bairro limpo e policiado
seu prédios altos e bem cercados
seu porteiros pretos e pardos
e teus filhos idiotas e mimados

mortos
adoro todos vocês
mortos.

.da novidade daquele dia que aquele bom livro me trouxe; aquela que eu já sabia.

.e dia desses eu reparei, não sem ajuda e troca/encontro:
tudo é novidade o tempo todo!.

.até o mesmo é novidade
o mesmo retorna novo
é o eterno retorno
do diferente!.

.o eterno retorto daquilo que é
em si mesmo
surpreendente

surpreendentemente infinito
e nada mais

só isso.

.percebe-se só o que é novo
seja o tempo o mudador
sejamos nós mesmos mudados
e, é claro, ninguém aqui disse em melhorado.


.talvez reafirmado.

.é apenas novidade
sem compromisso
ou necessidade,
é só novidade
que por não ser tão necessária assim
a gente liga ou se desliga
mas ainda é novidade.

.todo o instante é novidade
todo o instante é invenção.

.pra quem sabe brincar de viver
todo o instante é brincadeira do tempo
todo o instante é nossa brincadeira
feita de regras na hora
daquelas boas de se desfazer
quando se sente querer.

sábado, 17 de outubro de 2009

.talvez.

.e, por um instante de ira
daquelas que tremem na base dos joelhos
reclamam na ponta do queixo
e cortam o ar do meio da sua garganta
eu pensei que, talvez,
essa cidade não mude
as pessoas não mudem
as coisas não vão melhorar
o ambiente não vai ficar mais agradável por aqui
pensar em mudança, e ainda, mudança para melhor,
é, talvez, pensar em um nível de absurdo.
.talvez o mundo simplesmente se divida
os interessados e os desinteressados
os educados e os mal educados
os rabugentos e os simpáticos
os mal e os bem atendidos
os produtores em larga escala
e os consumidores em maior ainda.
.talvez seja apenas uma questão da ordem de consumo
é passageiro e mutável
é histórico, genalógico, cinza
entretanto, talvez,
seja assim mesmo.

.e se for,
que haja guerra!.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

.a compra, a venda, a troca e a brincadeira.

.não deixe ninguém comprar sua folga
nem comprar sua vontade de não fazer nada
não permita que ninguém compre o tempo de teus devaneios
nem que compre a tua confiança na vida

não se permita vender tua certeza de que a vida é maravilhosa
de que você produzirá mesmo fora de um trabalho
não venda essa certeza!

não venda a tua vontade do novo nunca
muito menos em suaves e densas prestações de rotina amarga

não venda a tua rota
não venda o teu destino
não venda o teu gosto
não venda o teu corpo

brinque com o dinheiro
brinque com a situação

não se vende por dinheiro
nem pela situação.

invente novos caminhos pros mesmos lugares
sem esquecer de deixar os mesmos lugares diferentes

faça da venda, troca e compra, uma outra relação
produza em cima da dor e da alegria
produza sobre a oportunidade constante
brinque.

venda a brincadeira!
venda somente a brincadeira.!

.a ladeira e a bicicleta.

.acho graça do quanto aprendo com a bicicleta

ontem a noite, fiz questãod e descer uma ladeira íngrime com a bicicleta
como quem confia
como quem é seguro do certo e do errado
como quem confia numa escolha que não é tão sua, mas em parte sua

foi uma das primeiras vezes na minha vida
que eu me deixei ir
do alto ao baixo
usando e desusando os freios

sentindo
sentindo-me forte

e foi bom
diferente
imprevisível, porém certeiro

a queda, se necessário, faria parte
mas não fez

o vento no meu rosto lembrou-me da infância
lembrou-me do medo
lembrou-me do crescer.

.coisas pra trás.

.deixei certas coisas pra trás
tento não pensar nelas
não consigo evitar
tenho pena das coisas inanimadas que eu não uso
tenho pena das boas idéias que eu não exerço
tenho pena das atividades que deixo de fazer
queria ser tudo aos montes.

.acho que tudo isso
idéias, coisas e atividades, de certa forma, se sentem tristes por serem esquecidas, ou evitadas.

.eu sei, isso é só narcisismo.

.mas dá pena.

.dos livros no lixo.

.sai do trabalho de bicicleta, da mesma forma que cheguei
com aproximadamente 30 segundos de pedalada, na mesma rua do restaurante
eu vejo um homem com uma carruagem de papelão
apilhando livros que se encontravam ao redor e dentro de uma grande lixeira
daquelas fundas, específicas para lixo seco
dentro de sua enrome carruagem

dizendo por alto, eu diria que vi mais de 200 livros naquela cena bizarra

aos que brincam com a vida, não falta encontro com o surpreendente

perguntei ao catador de papel se podia olhar nos livros que ele estava catando
achei livros toscos e antigos, livros velhos e alguns quase recentes
livros sobre teologia, militaraismo brasileiro, história do brasil e filosofia

inusitado

catei alguns
enquanto catava, imaginava como os levaria para casa de bicicleta
quando vi, ao meu redor tinham mais de 10 livros de capa dura e pesados que me interessavam

enfim, vou resumir a história
estou num misto de vontade de detalher esse momento pra reler e rir depois com muitos detalhes
e vontade de escrever uma reflexão sobre isso
dá preguiça de escrever detalhes
apesar de gostar muito de, tempos depois, reler detalhes

enfim
achei graça do lixo
achei continuidade do lixo
depois não era mais o catador quem metia a mão na lixeira
mas eu
a lixeira era enorme e escura, a cada mãozada saiam mais livros, os quais eu morria de curiosidade para ler os títulos

confesso que a maioria me desagradava em gosto
mas me deixava facinado como registro histórico
pensei como os livros são história
a história de com a história se formou
nenhum livro é ruim
nenhum livro é inútil
os livros são uma das expressões de um continuidade!

antes dos livros, tinha vidro e sacos na lixeira
mão com cortes e livros

um bergson e um sorriso
um nietzche e uma garagalhada
aldous huxley!
autores que eu só ouvi de nome, ams reconheci
e outros muito undergrounds

surreal...surreal...

livros em lixeiras

deus sabe o quanto eu acho graça nos livros
eu não os resisto
quero comprar todos
nem é questão de lê-los
querendo ou não, não é esse o ponto fundamental
mas eu acho que o ponto, pelo menos um dos bacanas
é o acesso
é a cobrança
ter um livro é como uma idéia que cobra ser pensada!

me sentia bem mechendo no lixo
apesar dos cortes

o senhor que jogou os livros fora me viu mechendo na lixeira
oscar
disse-me que os livros eram de seu falecido sogro
e que por dias tentou doa-los a qualquer um
num desespero por ocupação de espaço caseiro
jogou parte fora


no desenrolar da história, oscar me chamou pra ir até a sua casa
falei também com sua esposa
disse-me que a maior parte da biblioteca abandonada ainda estava em casa
e precisava ser desfeita
mas que estava quase encomendada

acho que por desespero
e por dó de jogar tantos livros fora
oscar pegou meu telefone e disse que se der qualquer coisa errada
eu posso pegar os livros
dentro da casa de oscar, vi mais de mil livros encaixotados
me deu vontade de sentar e ver todos os livros que estavam dentro das caixas

um dia eu talvez entenda essa minha paixão visual por livros

por respeito, ou sei lá pelo que
perguntei o nome do falecido proprietário da biblioteca

- iacy - respondeu-me oscar.

disse tratar-se de um teólogo mineiro e não lembro mais o que

pensei tantas coisas sobre iacy que me dá preguiça de escrever

mas acho que pensei em iacy como um homem que eu gostaria de conhecer
me conectei com iacy sem nunca conhecê-lo
movimento cósmico

a mentira do conhecimento, como todas as outras mentiras, pode agradar
me agrada
gosto de pessoas que apreciam
o conhecimento
gosto de iacy.