domingo, 29 de novembro de 2009

.da ordem e da medida das coisas.

.tudo é movimento
todo movimento é natural e espontâneo
inclusive os movimentos forçosos e falsos

imerso em água nem tão limpa assim
adimirando a similaridade que meu pés têm com minhas mãos
sentindo minha respiração e as batidas do meu coração
interferirem no movimento da água da banheira
assim como a própria água e a própria banheira
interferiam na minha respiração e no meu rítmo cardíaco
eu reparei/formulei/poetei

a medida das coisas e do movimento das coisas
está nas próprias coisas

tudo se dá naturalmente quando tem de se dar
raiva
dor
amor
ódio
alegria
risada
coceira
amor
pigarro
e catapora

acreditar que as coisas deveriam se mover de outra forma
e terem outra medida que não essa que realmente têm
é desacreditar na realidade
e desconfiar do movimento

é depositar esperanças em um lugar
onde a ordem das coisas
é mais natural do que a naturalidade daqui

é dar finalidade ao movimento indefinidamente móvel

a questão da realidade
para se saber sobre a medida das coisas
e confiar que a vida é ... (tempo pensando)
sem adjetivação, a vida só é

para se saber a hora de ir e a hora de ficar
a hora de rir e a hora de chorar
a hora de dizer e a hora de calar
a hora certa pra beijar e pra bater
o momento preciso pra se xingar e se perfazer
para se saber o instante perfeito em que as coisas estarão em ordem e medidas corretas
perfeitas e certas
basta, de certa forma, não saber

saiber apenas que é
que há

que apesar de as vezes não vir nada em mente ou corpo
como depois de uma gigantesca realização ou de uma grande decepção
onde, de alguma maneira, um vazio de sentido e direcionamento nos toma
haverá de haver novo sentido e nova direção
só haverá só
sem esforço
e com confiança

confiar na realidade
eis o nosso desafio
a nossa dádiva
e a nossa vida.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

.algo em mim.

.tem algo em mim que não cabe em palavras
tem algo em mim que se expande e respira,
que sempre que se cabe em qualquer definição,
não se cabe mais do que por um instante.

.lembro de meu humor diário:
só seria capaz de descrevê-lo/caracterizá-lo/conceituá-lo
por intermédio de um poeta sgaz internalizado em eus
um poeta neologista que não parasse em momento algum de escrever.

.há algo que não cabe,
pelo contrário,
foge e briga com as palavras e conceitos
dentro e fora de meu corpo.

.talvez esse algo seja eu mesmo.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

.tratado/contrato afetivo familiar.

.eu não te peço mais abraços
e você não me pergunta mais
que dia eu volto.

.abraços não se pedem
mesmo quando requisitados e correspondidos.

.eu não sei quando volto
não faço idéia de quando vou estar aqui de novo.

.existe algo de duro nisso:
entre a vontade de voltar
e a vontade de não voltar
tudo o que se manifesta
é a indiferença de quem não sabe,
como alguém que não se importa mais.

.talvez valha a pena
não perguntar quando volto
assim como, sem querer,
eu nunca achei que valesse a pena perguntar
quando você iria me visitar.

.quando a gente menos esperar,
eu já vou estar em um ônibus
em direção ao centro
e, como sem perceber,
estaremos ai, nós dois, ai.

.nos cumprimentaremos como se tivéssemos nos visto ontem
e eu sinto que nem faz tanto tempo que a gente não se fala.
na verdade,
nem sei mais quanto tempo faz.

.fazemos ambos a mesma pergunta cretina
como se esperássemos que com essa pergunta
pudéssemos recapitular as semanas de distância:
afinal, como você está?.

.- eu estou diferente.
vejo que você também, nem precisa dizer
parece mais cansada do que nunca
parece mais madura, não minto
parece mais velha
parece feliz com a casa que tem.
mas parece mais cansada do que nunca.

.conversamos um pouco,
assistimos a um filme
e continuamos a fingir,
talvez para o nosso próprio bem,
que filho e mãe não se abandonaram.

.somos humanos demais para percebermos que somos ambos humanos
somos humanos demais para nos abraçarmos ou retornarmos a nos ver
sem um contrato, pedido formal, ou cláusula jurídica válida para menores de idade.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

.sobre meu deus².

.o cosmos é a totalidade em constante movimento. é a totalidade em mudança constante (mudar é se movimentar) e constantes encontros de si-consigo, os quais geram e são o movimento. (acho graça e bonito acreditar que, se há de haver um deus, que ele seja o movimento cósmico e sua afirmação).
.seria incabível acreditar que a vida poderia estar fora da totalidade. tudo está dentro do todo, inclusive a vida. a vida é um das expressões/manifestações da movimentação cósmica, que tomou determinada forma e, desta forma, se fez imagem própria (para nós, construtores de imagens por necessidade) sem ser tão própria assim. não se separa a Vida do todo.
.o que torna a vida especial? o que a faz parecer possuidora de um movimento próprio em relação ao cosmos, ao invés de ser encarada como um dos movimentos do sopro cósmico?
.a vida se caracteriza por ser um fragmento de todo, um fragmento de destino, com organização energética intensa. é uma organização cósmica com película bem fina e bastante permeável, com uma aparente intencionalidade e reatividade própria. essa impressão de que a Vida tem uma intencionalidade própria, observável através da constante necessidade de se afirmar em movimento, não me parece errada. eu sinto assim. construímos muitas coisas enxergando desta forma e vivendo desta forma. a questão é que essa intencionalidade da vida, aparentemente própria, também está dentro do cosmos. afirmo aqui, novamente, que o movimento vivo, é uma expressão de um movimento cósmico. sendo assim, a intencionalidade viva, representa a intencionalidade cósmica.

.trecho do texto 'o eu de porcelana cósmica'.

.sobre meu deus.

.faz algum tempo que, como um crente fiel,
vejo as coisas sempre sobre um determinado
ponto de vista pré determinado
e tudo parece se encaixar
e tudo parece mais leve
e tudo parece um pouco mais inocente sem ser ingênuo
até mesmo criei um deus
o nome do meu deus é
movimento.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

.das perguntas.

.sinto que ultimamente,
mais precisamente a uns 19 anos pra casa dos 20
ouço mais respostas do que perguntas

me respondem mais e antes
do que aquilo que eu pergunto

me acostumei a ouvir respostas
e buscar respostas
antes das perguntas

se as perguntas deveriam surgir por necessidade
não me lembro de darms tempo pra isso
jhá respostas demais para ouvir perguntas
há pessoas demais para ouvirmos a nós mesmos

as perguntas que me fazem
já têm respostas

talvez dai venha a arte
a escrita, a música, a fotografia
que insisto em brincar
talvez essas sejam as minhas perguntas ao mundo
essas são minhas perguntas a mim

talvez seja só assim que eu saiba duvidar do mundo
sendo minha única forma de saber mais do mundo
minha única necessidade legítimamente minha.

.é tempo de ouvir perguntas
é tempo de ouvir o corpo
ouvir a arte
perguntar.

.é tempo de parar um pouco.