quarta-feira, 13 de junho de 2012

.nome próprio.

.quantas vezes a gente precisa ouvir o próprio nome
até que ele vire nome próprio?
quantas vezes até decorá-lo, enfeitá-lo, encaixá-lo em nós?

quantos são os desafetos próprios, as brigas e as burradas
para querer esquecê-lo, tocê-lo, rasgar ele inteiro?

quanta ousadia, própria ou achada,
é necessária para não se importar mais com ele?
quanto tem de coragem nessa ignorância, nessa leveza, nessa dança?

tem muita história em um nome,
no meu nome próprio
que é de minha propriedade e garantia
grande parte da história
nem fui eu quem escrevi 

muitas memórias, 
repetições
muitos acidentes, más interpretações,
gráficas, semãnticas e léxicas

tem hora que pesa demais
tem hora que,
talvez graças aos corpos que sempre somos,
ele nem importa mais

quando a gente geme um nome próprio,
em certas ocasiões,
já é quase esquecimento
de não importar mais

ainda bem.








.mauna.


.silenciar e ver as coisas passarem
e ver você mesmo passar

fiz um voto de silêncio e percebi
como as coisas se dão,
como as pessoas falam.
como as trocas e as idiotices,
bem como as trocas idiotas e as idiotices trocadas,
os risos e delírios,
tudo isso continua em meu silêncio

mas é tudo de um jeito totalmente diferente
que eu gostei muito de olhar
e, só
olhar.

terça-feira, 12 de junho de 2012

.consultório.

.eu disse:
- coça!
- aonde?
- na bunda!
- mostra!
(abaixo as calças)
- agora, estica a pele!
- assim?
- sem o dedo na frente!
- assim?
- ... é bixo-de-pé!
- na bunda?
- é.
- é bixo-de bunda?
- troglosafofilina de 400 mg, 5 vezes por vida. passar bem.

.escrever-se.

.a gente hesita em escrever
como hesita de se ver n'um espelho
e, tão rápido quanto o reflexo,
não se reconhecer mais

escrever-se é a possibilidade de encontrar-se
não com alguém que já está aí,
só idiotas escrevem pra isso,
mas com alguém que já está pra lá.

.esquecer-se.

.ando esquecendo-me por demais
deixo roupas, carteira e chaves pra trás
deixo-as em cima de tua bancada
deixo-me esquecer por aí

suspeito de que seja vontade,
desculpa pra poder voltar

ando tão esquecido por aí
que mal consigo funconar

deixei espalhados pela tua casa
meus olhos, ouvidos e lábios
quando ando pelas ruas e vou ao trabalho,
não sinto meu corpo inteiro e percebo
esqueci minha pele contigo

esqueci o dia inteiro
de tanto lembrar onde estava

esqueci mais de uma vez, pra ter sempre desculpa pra voltar
porque esquecer, no final das minhas contas e dos meus dias,
pode bem ser excesso de lembrar (daí).

.mover-se ou mover si.

.mover-se é mais que preciso
é mais que precisão
é mais do que o necessário
é, quase lá, uma condição

a fuga do movimento
nada mais é que ilusão
pois, ao fugir-se do movimento,
faz-se movimento, então.