.sai do trabalho de bicicleta, da mesma forma que cheguei
com aproximadamente 30 segundos de pedalada, na mesma rua do restaurante
eu vejo um homem com uma carruagem de papelão
apilhando livros que se encontravam ao redor e dentro de uma grande lixeira
daquelas fundas, específicas para lixo seco
dentro de sua enrome carruagem
dizendo por alto, eu diria que vi mais de 200 livros naquela cena bizarra
aos que brincam com a vida, não falta encontro com o surpreendente
perguntei ao catador de papel se podia olhar nos livros que ele estava catando
achei livros toscos e antigos, livros velhos e alguns quase recentes
livros sobre teologia, militaraismo brasileiro, história do brasil e filosofia
inusitado
catei alguns
enquanto catava, imaginava como os levaria para casa de bicicleta
quando vi, ao meu redor tinham mais de 10 livros de capa dura e pesados que me interessavam
enfim, vou resumir a história
estou num misto de vontade de detalher esse momento pra reler e rir depois com muitos detalhes
e vontade de escrever uma reflexão sobre isso
dá preguiça de escrever detalhes
apesar de gostar muito de, tempos depois, reler detalhes
enfim
achei graça do lixo
achei continuidade do lixo
depois não era mais o catador quem metia a mão na lixeira
mas eu
a lixeira era enorme e escura, a cada mãozada saiam mais livros, os quais eu morria de curiosidade para ler os títulos
confesso que a maioria me desagradava em gosto
mas me deixava facinado como registro histórico
pensei como os livros são história
a história de com a história se formou
nenhum livro é ruim
nenhum livro é inútil
os livros são uma das expressões de um continuidade!
antes dos livros, tinha vidro e sacos na lixeira
mão com cortes e livros
um bergson e um sorriso
um nietzche e uma garagalhada
aldous huxley!
autores que eu só ouvi de nome, ams reconheci
e outros muito undergrounds
surreal...surreal...
livros em lixeiras
deus sabe o quanto eu acho graça nos livros
eu não os resisto
quero comprar todos
nem é questão de lê-los
querendo ou não, não é esse o ponto fundamental
mas eu acho que o ponto, pelo menos um dos bacanas
é o acesso
é a cobrança
ter um livro é como uma idéia que cobra ser pensada!
me sentia bem mechendo no lixo
apesar dos cortes
o senhor que jogou os livros fora me viu mechendo na lixeira
oscar
disse-me que os livros eram de seu falecido sogro
e que por dias tentou doa-los a qualquer um
num desespero por ocupação de espaço caseiro
jogou parte fora
no desenrolar da história, oscar me chamou pra ir até a sua casa
falei também com sua esposa
disse-me que a maior parte da biblioteca abandonada ainda estava em casa
e precisava ser desfeita
mas que estava quase encomendada
acho que por desespero
e por dó de jogar tantos livros fora
oscar pegou meu telefone e disse que se der qualquer coisa errada
eu posso pegar os livros
dentro da casa de oscar, vi mais de mil livros encaixotados
me deu vontade de sentar e ver todos os livros que estavam dentro das caixas
um dia eu talvez entenda essa minha paixão visual por livros
por respeito, ou sei lá pelo que
perguntei o nome do falecido proprietário da biblioteca
- iacy - respondeu-me oscar.
disse tratar-se de um teólogo mineiro e não lembro mais o que
pensei tantas coisas sobre iacy que me dá preguiça de escrever
mas acho que pensei em iacy como um homem que eu gostaria de conhecer
me conectei com iacy sem nunca conhecê-lo
movimento cósmico
a mentira do conhecimento, como todas as outras mentiras, pode agradar
me agrada
gosto de pessoas que apreciam o conhecimento
gosto de iacy.
O menino e seu mar
Há 8 anos
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