sábado, 17 de julho de 2010

.da leveza e do peso.

.não pediram mais nada
o silêncio, levemente,
pedia tudo o que era necessário
pr'aquele momento

os corpos, repletos de desejos densos,
encontravam-se como quem sabe
onde, como e porquê,
sem nem querer saber de quando

era uma intimidade tão leve,
tão natural e pura, como se ela já existisse
antes mesmo daqueles corpos existirem,
que não deu tempo pra pensar, sequer,
em uma forma de temer aquele momento,
nem seus motivos passados,
muito menos suas conseqüências futuras

não deu tempo pra pensar em ter medo
não deu tempo pra pensar em ter regra
não deu tempo pra pensar em palavrear o tempo
não deu tempo de, sequer, pensar em passados

.o agora era tão fugaz, necessário e aproveitável,
que não esburrava tempo pra se perder.

era uma intimidade tão leve, quase ingênua,
que só conseguiram mesmo pesar
em memória de bem querer de agora
e em folha de papel rabiscado depois.

.história.

.tem horas que eu queria saber
em que momento da história
a gente resolveu trocar
a liberdade, pela rotina.

.vira e meche, eu me pergunto
quando foi que a gente começou a ter
tanto medo de perder algo
que nunca mais quisemos soltá-lo.

.quando será que foi
que criamos tantas regras
pra ministrar o que é tão natural.

.quando foi que optamos
por carregar toneladas em nossos peitos
ao invés de, simplesmente
preenchê-los de ar.

.quando será que foi
a primeira vez que
tivemos tanta certeza de que éramos
completamente tão diferentes do resto da vida
que passamos a temê-la.


.e, faça-me um favor,
mantenha-se em silêncio
se acaso pensares em dizer
que tudo isso é natural.
.você me dá um beijo
se eu não te pedir por um?.

domingo, 11 de julho de 2010

.aos que zombam de nossa vítória.

.apesar daqueles que zombam de nossa vitória
[tanto da nossa cidade quanto de nossas afirmações]
somos completos de todos os nossos defeitos
somos completos de todos esses completos defeitos.

.somos curados de todas as formas,
tipos e tamanhos de cura
assumimos, faz um tempo,
todas as deformações descartadas das linhas de produção.

.nossa vitória nem sempre envolve ganho
há sempre vida em nossa vitória
mas nem sempre ganho.

.uma cidade que grita em silêncio
e faz chacota berrante de tudo
sem dizer uma palavra sequer
são vivos completamente mortos
quem estaria vivo gritando em silêncio?
quem buscaria a perfeição em butiques
da parte chique da cidade
pra calar a voz e gritar a imagem
sem estar completamente morto?.

.vemos vivos completamente mortos
já nós, não
nos recusamos a essa condição.

.nó temos orgulho de nossas chagas
mais até do que realmente somos nossas chagas.

.nos afirmamos vivos,
mais vivos que muitos mortos.

.se não tivéssemos esquecido o que é a pena
sentiríamos por esses defuntos mudos.

.ao invés disso
passamos o tempo
gritando e orgulhosos com nossas dores
pra quem quiser gritar conosco.
porque, faz tempo,
só ouvir, ou fingir que nos ouve,
não é o suficiente pra gente.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

.do silêncio do outro.

.e eu, que achava que gostava do silêncio,
que achava que já tinha me acostumado,
jurava estar curado do medo de ficarmos todos surdos e mudos.

.redescobri, logo por agora,
que o silêncio do outro,
do outro de verdade,
do outro que te firma em terra,
em esperança e confiança,
dói.

.100 anos de solidão e silêncio não machucariam em nada
se não tivesse outrem por quem esperar uma singela resposta.

.da quarta dimensão.

.não precisa de paredes pra se sentir esmagado
mais do que espaço, alutura, largura e comprimento;
mais do que paredes e limites geográficos;
o que me esmaga mesmo,
aquilo que tem a proesa de me esmagar onde mais preciso de espaço,
aquilo que retorce meu peito por dentro e por fora ao mesmo tempo,
a dimensão que mais me corta, me preocupa e me consome
é o tempo.

.nota de registro.

.café.
.insônia.
.calendário.
.agenda.
.relógio.
.celular.
.prova final.
.dívidas.
.salários.
.finais de mês.
.café.
.virar a noite.
.3 dias seguidos.
.ducha fria.
.tempo.
.tempo.
.tempo.
.tempo.
.curto.
.uma vida é muito pouco.

.a ânsia de consumir o tempo
em doses maiores que minha boca,
meus pés,
meus olhos,
e meus pulmões,
não me deixa perceber se o que sinto
é vontade de morrer menos,
vontade de viver de mais,
ou de viver mais pra morrer logo.

.a vertigem,
tanto causada pela altura quanto pelo tempo,
causam-me tanto a sensação de medo
quanto a sensação de alívio.

.estatística.

.determine p(x) para a seguinte função:

f(x) = não faço idéia³.x

sendo que "se fuder bastante" < x < "se importar com tudo isso"
sendo x pertencente ao universo dos números irreais,
abstratos, absurdos, metafóricos, metafísicos
e idiotas.

.dois em um.

.nem todo o riso é alegria [o suficiente]
nem todo o sangue é dor [pr'o número de feridas do meu corpo]
nem toda lágrima é tristeza [o bastante]
nem todo muro é prisão [intencionalmente].

.nem todo passado já passou [o necessário]
nem todo gozo é prazeroso [o suficiente]
nem toda a amargura é intragável [ao extremo]
nem toda a sensação é sensível [à pele dormida].