terça-feira, 20 de abril de 2010

.estrangeiro.

.têm horas que eu me sinto um estrangeiro de verdade
converso com todas as pessoas, procuro no dicionário o tempo todo
mas, por mais esforço que eu faça,
ainda não entendo a palavra saudade.

.shhhh².

.só quero estar só
e desfrutar de minha carência
só quero estar só
aproveitar de toda a ausência
só quero estar só
não me importar mais
em atarmos e desatarmos nós.


ahhhhhhhh... um bom clichê.

.shhhh¹.

.shhhhhhhhhhhh.

.não precisa falar o tempo todo
nem tudo é e nem precisa ser palavreado
nem tudo é comunicável
e nem tudo eu quero ouvir.

.assim como a pele nas noites de frio em cima da cama,
os olhos ouvem mesmo no silêncio
e a língua cala com toda a razão.

.os teus gemidos fazem muito mais sentido
e significado que muitas palvras
e o teu cheiro, ao invés de relatos de tragédias e alegrias,
esse sim,
é o que me lembra mais de algo passado.

.shhhh.

.hoje eu chamei o silêncio para um café
meio que, sem perceber a hora,
ele acabou passando o dia inteiro comigo.

.adoro a sua companhia
.

.a besta. .ou. .o dragão em mim.

.há uma besta aqui dentro
e agora eu entendo porquê existem dragões
dragões servem para cuspir essa bola de fogo
bolas inúmeras que crescem
entre o diafragma e o esôfago
nos momentos de fúria
nos momentos de ansiedade.

.essas palavras sublimam a besta que insurge em mim.

.as palavras tentam queimar o papel com a sua velocidade e força
quando, na verdade, eu queria era queimar o mundo inteiro com a minha fúria.

.eu nunca me sinto mais vivo do que quando me sinto furioso
o estremecer involuntário do corpo, a cognição acelerada, a atenção, os olhos bem abertos
e a sagacidade de encarar tudo, mesmo sabendo das consquências, de peito aberto.

.menos exitação
mais paixão e impulso
mais vida
esse dragão em mim.

.essa besta é meu motor
eu sou, também, essa raiva e essa angústia
caladas e concentradas nos esforços doloridos
de sorrir sorrisos murchos, bestas e flácidos o tempo quase inteiro.

.a besta
cospe
bolas
de fogo.

.eu nunca me sinto tão vivo
quanto quando a besta cospe suas bolas de fogo.

domingo, 11 de abril de 2010

.mudo, mudo.

.mudo, mudo, o tempo todo
mudo, mudo e nem percebo
mudo, mudo, o mundo inteiro
mudo, mudo todo mundo num segundo.
mudo, mudo e nem percebo.
só percebo que,
quando não posso mudar,
emudeço.

domingo, 4 de abril de 2010

.ciclista¹.

.se esgueira
se sua
pedala bastante
sobe a ladeira na marcha leve
num ritmo constante.

.passa entre os carros
passa pelos carros
passa por cima dos carros.

.leva buzinada,
possa d’água,
chingamento,
e grosseria
além dos cosntantes bueiros
no lugar de acostamentos.

.sobe na calçada
desce a rampa
toma fechada
e sua mais um pouco.

.pedala bastante
bastante.

.não há espaço?
cria-se espaço!.

.sai cedo pra sentir mais o vento
escolhe seu próprio caminho
pros mesmos lugares
todos os dias.

.aproveita a paisagem
de sua bela cidade
e sente os cheiros e os gostos
que os outros transportes não têm.

.quando chega ao destino
as pessoas o olham torto
acham que é louco
acham que é arriscado
acham que é saudável.

.e ele só acha que é mais livre.