sábado, 27 de junho de 2009

.sobre o que admira zaratustra.

.o homem que causa admiração a zaratustra é o homem que, por onde caminha, não só faz percorrer, mas se faz caminho. fala-se do homem que caminha pelo próprio caminhar. o homem que encara a possibilidade de percorrer o trajeto como dádiva da existência, grande razão da terra/do ser. o homem que vê tal caminho como escolha, e a repitiria eternamente. a admiração de zaratustra vem da possibilidade do homem se reconhecer e ser dentro de seu caminho.
em contraposição, o homem que faz de seu caminho penalidade/punição para que, sobre essas condições, encontre uma existência harmônica e final/definitiva é repulsivo a zaratustra.
sendo assim, é, também, repulsivo a zaratustra a idéia de transmundaniedade, a idéia de estágio auge do ser, a idéia do fim dos conflitos entre forças que perpassam o homem. cabe-lhe, muito mais, a idéia do constante acabamento, a idéia da existência como eterna construção, conceitos que, para zaratustra, denigrem o homem se negados.
a eterna construção, o ser eternamente ponte/conflito e rearranjo.
do eterno conflito do homem é que se dá a razão da existência. e buscando a totalidade, inevitavelmente inalcansável de forma estática, e não à perfeição, que se dá sentido à vida para zaratustra.

"o que é de grande valor no homem é ele ser uma ponte e não um fim; o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um acabamento." (zaratustra)

.sobre crescer.

.as pessoas não crescem
é, simplesmente, a incapacidade humana
de sustentar um conceito esdruxulo
os mesmos bicos sempre
as mesmas inseguranças.

.hoje não.

.hoje eu não to com paciência alguma
nem pra mim, nem pra você

hoje eu não consigo e nem quero ter explicação
cada nova resposta, hoje, é só mais uma chance de me iludir

hoje eu não consigo pensar em nada sem me contradizer
e, como maior contradição a meu bem, hoje não consigo parar de pensar

hoje eu não faço questão de fazer sentido
não me alisto no exército da razão

hoje eu não sinto nada com nome
mas, por ser babaca/humano, tento nomear o tempo todo

hoje eu não me sinto certo
até eu estou contra mim

me acho cafajeste
fraco
hipócrita
nojento
metido
e mesquinho

mal me suporto só
quanto mais em contato

hoje não passa
por incrível que pareça
parece que hoje já basta
e tudo que eu quero
é saber o que eu quero

parece que não me falta nada
fico completo com todo esse desconfiar de mim
mas, ao mesmo tempo, me falta tudo.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

.trânsito urbano.

.é tudo muito corrido, é tudo trânsito, é tudo passagem, é tudo passageiro; e, com tanta pressa, chega a ser engraçado tanta lentidão em um engarrafamento.
tanta limpeza não disfarça o cheiro de mijo e de vômito das ruas, isso quando estão limpas. eu me pergunto se algo disso foi planejado, se alguma rua dessas foi pensada, ou se só correram por necessidade e pressa.
não lembro dessa cidade ser tão engarrafada asism. me parece que, faz uns 2 anos, a gente se acostumou com a idéia de mudança, de melhoramento, de agilização e, para que esse processo acontecesse, enfrentariamos, temporiariamente, constantes engarrafamentos, constante lentidão, constante raiva e sufoco.
a cidade se encheu de obras. se encheu de mudança, se encheu de buracos e muita poeira. parecia uma solução definitiva. só podia ser uma solução definitiva! as avenidas mais importantes, as artérias da cidade, estavam parcialmente entupidas. tinha que ser definitivo!
logo pela manhã, a gente matutuava que ônibus ou que caminho pegar. qual caminho tinha menos obras. mas era inevitável. a ilha não é tão grande assim. os caminhos que não tinham obras em andamento, certamente, se entupiam como únicos caminhos de fuga da estase. enfim, não havia caminho livre.
pensando agora, agora mesmo. talvez esses dois ou mais anos, tenham realmente estimulado a andarmos de bicicleta nessa cidade. eu vejo que o número de ciclistas aumentou. o foda é o calor. é simplesmente foda andar de bicicleta ao meio dia. não que andar de ônibus seja agradável. mas de bicicleta consegue ser ainda mais desgastante.
o engraçado é que eu vejo as obras terminando e o engarrafamento persisitindo. tem uma ponte nova por aqui. bonita. diferente. quase pronta. os engarrafamentos não diminuiram. o que hoje me deixou um pouco triste e encantado. talvez tanto engarrafamento, pra gente de vitória, seja como sentir que há progresso. que há problemas urbanos significativos. talvez pontes grandes e engarrafamentos constantes sejam sinais de progresso. sinais de desgaste também. mas acho que, depois de mais de dois anos, viraram mais sinal de progresso.
como alguém que se acostuma a dor, parece que essa cidade se acostumou a seus novos e velhos engarrafamentos. as vezes, no fundo, até se orgulha deles. é o constante trânsito.
essa cidade simplesmente me encata com seu aconchego. não há lugar em que eu me sinta mais achado do que em vitória. ao mesmo tempo, é uma cidade que consegue me surpreender com coisas tanto antigas quanto novas. me sinto seguro e surpreendido. parece a união de sensações díspares.
outra coisa que me encanta; as outras formas de transitar. se os engarrafamentos, de certa forma, emparelharam-se à sensação de progresso, por outro lado, formas alternativas de transitar se associam à idéia de, simplesmente, não se importar mais ou de não ter se importado nunca. o transitar progressista me remete a metas, me remete a objetivos específicos, me remete a cobrança, pontualidade. há algo além disso. o transitar denucia a diferença.
há aqueles, dentro dessa mesma cidade, que não transitam para chegar a algum lugar. transitam por transitar. são pessoas que não se afetam negativamente pelas mudanças de um determinado trânsito, mas contemplam-na em seu próprio transitar.
admiro aquele que se vê em trânsito e em paz.
muitas vezes sinto que a maioria, por aqui, mesmo tendo aceitado essa nova forma progressista de transitar, se vêem transitando em agonia.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

.achismo.

.escrevendo por aqui
eu percebi que eu acho muita coisa.
.sou quase uma fonte de opinião.
e olha que ninguém me perguntou nada.
ai, ai de quem der corda.

eu acho tudo uma mentira, isso sim.
nem nos correios eu acredito mais.

.(des)graça.

.é tipo video cacetada
é foda.
a gente acaba rindo da desgraça dos outros.
talvez seja só o alívio de não ser você.

eu acho graça nos disfarces
nas poses.

tipo alguém que tropessa
senta a ponta do pé no chão
e finge que tomou impulso.

ou quem se veste de terno elegante
vestido bonito
ocasião solene
e ataca coffee break.

eu acho graça das pessoas perdidas
que fingem que sabem onde estão.

se for pra ser perdido
é pra não se importar e encarnar o perdido
aproveita.!


eu acho que tem desgraça que é bom a gente rir
pra gente ver que superou
que não atinge mais da mesma forma
que tá distante,
ou não.

.esquizofrenia cotidiana.


.são corpos
e compras
e luzes
e barulhos
e confusão.

.são fluxos
e olhos
e bocas
e ouvidos
e dificuldade de acompanhar.

.são desejos
e compras
e luzes
e barulhos
e sedução.

.são trânsitos
e olhos
e bocas
e ouvidos
e defesa.

.são escolhas
e compras
e luzes
e barulhos
e decepções.

.são resitências
e olhos
e bocas
e ouvidos
e esquizofrenia.

sábado, 13 de junho de 2009

.sobre meus medos.

.eu morro de medo de luz elétrica
tenho medo de tomar choque

não gosto de carros
tenho medo tanto quando estou fora quanto quando estou dentro
atropelamento e batida

sempre acho que as aranhas vão me atacar
sempre
se forem peludas,
eu acho que elas vão me queimar

tenho medo de câncer
de ter câncer
de ter que me perguntar
e agora?
quanto tempo?

não que eu não me pergunte isso
mas um tumor deve garantir certa frequência

eu tenho medo de assalto
medo pontual
as dez eu já não saio mais de casa

eu tenho medo de ficar só
até finjo que gosto da solidão
mas é só pra imaginar que tem alguém me procurando
no fundo é medo

eu tenho medo de morrer
eu tenho medo de durmir
eu tenho medo de não aproveitar o tempo
eu tenho medo de não ser entendido
eu tenho medo das pessoas
as vezes eu acho elas seguras demais
mas isso tem passado
ultimamente eu tenho mais medo de que as pessoas me vejam como agressivo

quando eu ouço minha voz, quando o telefone dá eco
eu não sou tão simpático quanto eu achava

acho que isso nem é medo
é estranheza.

eu tenho medo de talvez não gostar de ninguém
eu tenho medo de gozar antes da hora
eu tenho medo de falar antes da hora
eu tenho medo de dizer "te amo"
eu tenho medo de dizer "te amo" antes do gozo e da hora.

não apóio nem desmereço esses medos
é mais uma contemplação do que uma queixa.

uma lista
ao invés de um processo.

é uma risada
uma recapitulação
uma tentativa de identificação com outrem
e uma poesia.

esses são meus medos.

.a melhor coisa de um trabalho.

.é saber que você não depende dele.

.explodiu um pouco e um muito.

.hoje eu senti que eu ia explodir
que eu não cabia mais em mim
eu não cabia mais naquela rotina
eram eus contra as paredes

era só como mil desejos sem rumo
sem nome
sem voz
sem...
definição?

mas eram desejos!

eram com tudo isso também
e marshmellow

e eu não necessariamente queria ouvir

vindos de mins
vindos d'eus
sempre vindo

eu não me cabia
eus queriam sair

d'eus quase me sufoquei.
me sufoquei um pouco
perdi o ar em ansiedade

contei de novo todos os meses que faltavam.
olhei pro calendário como se ali
como num mapa
fosse mais fácil achar o caminho pra atravessar o tempo.

mas não é.

faltam 5 meses.
foram só 3.

que eus ainda estão nas lutas?
na luta de me convencer a continuar..
na luta de me convencer a parar tudo..

quais deles já desitiram?

quais deles mais me sufocaram hoje.

filhos da puta.

d'eus eu tenho amigos e inimigos.

parece que tem uns eus com um além de força
eles simplesmente dizem
'acima de tudo, até dezembro você fica aqui."
e eles não fazem questão de ser racionais ou democráticos

imagino que a única forma de resistência
seja um desmaio ou uma convulsão.

nem falta de ar adiantou
percebi isso hoje.

até dezembro nós ficamos
no curvamos
se fudemos
e aproveitamos
resistiremos
brigaremos entre nós
concordaremos (nunca por completo)
e mandaremos em vários corpos nominados sempre como "eu"

mas até dezembro nós ficamos

é um desafio
uma birra.

e só isso.
é birra.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

.já fui vilão.

.vira e mech(x)e, eu me vejo vilão
taquei o foda-se mesmo
e não foi só pra me proteger
foi pra fuder mesmo

que se foda

eu nem me sinto mal
só penso, "putz, ali, se alguém contasse essa história, eu, com certeza, seria o vilão."
é a vida.

.de como o trabalho dignifica o homem.

.não é um escolha, é um sentença
não é mais uma ação, é um reflexo
não é mais pensar, é reagir
não é mais discutir, é aceitar
não se trata de fazer, mas sim do quanto receber
não é um retribuição mensal, é um espera ardida
não é uma folga, é um alívio
não é um desaforo, é um ordem superior
não é cansaço, é preguiça
não é afinidade, é incompetência
não é necessário, é preciso
não é preciso, é mecânico
não se trata de medo, mas da possibilidade de ser mandando embora
não é seu, mas toma o teu tempo
não é dificíl de achar, só não tem quem não quer
não é competitivo, é nocivo ao outro
não é pra rever o seu caráter, é pra moe-lo
não é pra pensar só em si, é pra, também, pensar na queda do outro

não é pra dignificar o homem, é pra matá-lo.

a morte diária
sofrida
escarrada
escolhida
e assinada num caderninho azul
dignifica o homem.

o que tem de homem, num só dia
morre em um expediente, dois ou três.

.as melhores idéias.

.as melhores idéias não se tem sentado, nem andando a pé
se tem é andando de bicicleta, porra!
te venci, bigodudo safado!.

.em espera.

.faltam mais umas 50 páginas pr'eu acabar o livro do foucault

faltam mais uns 2 dias pr'eu revê-la
(estranho, ela faz falta. sentia falta de sentir falta)

faltam mais uns 5 meses e meio pr'eu viajar

faltam mais uns 5 meses e meio pr'eu largar o meu trabalho

faltam, vamo chutar aqui, uns 6 anos pr'eu acabar meu curso

faltam mais uns 65 minutos pr'eu durmir
(isso se eu não quiser chegar atrasado no trabalho)

faltam uns dois dias pra minha folga
(tá foda.)

e é isso.
eu to só esperando.

quando eu acabar tudo isso
vai ter mais coisa pra esperar
eu sei
eu confio no tamanho da vida
eu confio no meu medo do tédio
eu confio que, botando as mãos, ou não, no guidon
se você parar de pedalar você cai
e eu só não vejo porque parar de pedalar

um dia eu me perguntei por que diabos pedalar
otro dia eu me perguntei
por que não?
esse vento na cara é tão bom.

bom mesmo é se divertir na espera
sortudos aqueles que gostam de fila

o fim da fila é sempre aliviante
mas trás um vazio.

eu gosto é de me divertir nas filas
eu gosto é de escolher pelo que esperar
aquilo que vale a pena (?)
e a diversão também.

enfim,
eu não espero pelo fim pra me divertir.

estou sempre em espera e não reclamo.
(tanto.).