terça-feira, 15 de setembro de 2009

.tinha vontade.

.tinha vontade de escrever sobre alguma coisa
tinha vontade de ter narrativas publicadas
poesias discutidas
sensações descritas e compartilhadas
não via razão nem sentido na escrita
mas gostava
não via porque se importar com o que os outros vão pensar
ou melhor
se os outros vão pensar sobre seus pedaços e fragmentos expostos em papel
ou em tela de computador

não era um apreciador de si para admirar a própria escrita
escrevia e escorria de uma vez
sem distinção
e depois nem lia de novo
confiava no fim da vontade

pouco tempo depois voltou a ler o que havia escrito
fazia tão pouco tempo
e, por incrível que pareça, as frases certeiras e auto impactantes
não eram mais as mesmas
não faziam mais suar
não se faziam necessárias, ou mesmo pareciam próprias
eram pouco afeto
eram passados
afinal, o que mais poderiam as palavras ser?
passados registrados
e se possível
esquecidos

achava que a palavra poderia ser tanto a memória que a gente quer guardar
quanto à memória que a gente quer esquecer
quanto à memória que a gente quer descobrir

mas é sempre passado
ações passadas em ações presentes
ações nunca passadas em ações sempre presentes
ações sempre passadas em ações nunca presentes

tinha vontade de agir sobre o presente e o futuro
só usando o passado
se perdendo em palavras
e perdendo as palavras
aos montes
com o sagrado e maligno
o tempo

tinha vontade de escrever
tinha vontade de alívio
tinha vontade de publicar um livro.

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