quinta-feira, 6 de agosto de 2009

.devaneios a, no máximo, 60km/h.

.passa a roleta
agradece por não estar de guitarra nas costas
odeio passar a roleta com a guitarra

escolhe a cadeira lá do fundo
tem que sentar na janela
inevitável e incompreensivelmente
sempre a janela

escancara a coitada já meio quebrada
sente o vento frio bater no rosto
cafunga fundo
é fuligem de motor com cheirinho de terra molhada
que combinação

é o co² e liberdade
misturados em doses alopáticas
direto pra fussa

pensa muito...
abre a mochila e bota a mão no livro
daqui até o meu destino, dá pra ler umas 10 páginas
é um adianto

abre o livro
lê uma frase

e começa a pensar
e organiza todos o livros
os que tem e os que quer ler

e começa a pensar
e programa a semana inteira
mesmo que esqueça no próximo ponto,
de ônibus, ou da conversa alheia ao lado

fecha o livro esquecido em mãos
aquele que por um certo período de tempo
tinha a esperança de ler na viagem

e começa a pensar
e faz planos pro futuro
analisa bem a profissão
que amanhã mesmo vai desistir de seguir por decepção

e começa a pensar
e planeja ensaios musicais
livros inteiros a serem escritos
as malditas fotos que se, puta que pariu,
não tivesse esquecido a câmera
tiraria agora mesmo

e começa a sonhar
com filhos
com a paz do mundo
com a possível mulher
com a possibilidade de transar com homens
a possibilidade de morrer agora ou depois
quando terá um estudio
quando haverá cultura no estado e na sua cidade
com o dia em que viverá só do que gosta
só de arte e bobagens como o amor

teoriza sobre a toda a vida
encontra todas as respostas para a humanidade e pra si
acha uma resposta pra tudo
que se esvai até o ponto final

e, no final,
guarda o livro na mochila
salta do ônibus

com os pés leves
e os passos firmes

pés na realidade.

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